Vetor
potencial: temor é o de que 'primo' do Aedes aegypti dissemine febre amarela
nas cidades
Tatiana Lagôa
Vacinação é a única
medida de proteção contra a febre amarela; mais de 3 milhões de mineiros ainda
não foram imunizados
A descoberta do
vírus da febre amarela em insetos do tipo Aedes albopictus no
Leste de Minas Gerais aumenta a preocupação de a doença avançar para as áreas
urbanas. No passado, pesquisas já mostraram o potencial de transmissão do
“primo” do mosquito da dengue.
Chamado de “Tigre
Asiático”, por ter origem na Ásia, o inseto contaminado foi
encontrado por pesquisadores do Instituto Evandro Chagas (IEC), no ano passado,
nas cidades de Itueta e Alvarenga, ambas no Leste do Estado.
Com hábitos muito
próximos aos do Aedes aegypti, o mosquito se diferencia pela
capacidade de circular tanto na zona urbana quanto na rural. Ao contrário do
transmissor da dengue, que é “morador” de centros urbanos.
Até o momento, todos
os casos de febre amarela descobertos são fruto de contaminação no meio rural.
O receio agora é que o “Tigre Asiático” se contamine na mata e siga para as
cidades espalhando a doença. “É preocupante, mas não é desesperador. O que
precisa ser feito é um controle vetorial mais rígido nas áreas urbanas e
periféricas para evitar transmissão”, afirma o pesquisador e diretor do IEC,
Pedro Vasconcelos.
Ele explica que
ainda é cedo para afirmar categoricamente sobre a capacidade de transmissão da
doença pelo Aedes albopictus. Mas lembra que, no passado, por meio
de pesquisa feita em conjunto com o Instituto Oswaldo Cruz e uma instituição
francesa, eles comprovaram que, em laboratório, ele é vetor de febre amarela.
Agora, estudos seguem para checar se o mesmo ocorre na natureza.
No entanto, já causa
preocupação. O próprio Ministério da Saúde informou que acompanhará as próximas
etapas da pesquisa a fim de adequar os trabalhos às descobertas.
“A possibilidade é de ele, no futuro, se tornar transmissor potencial da
doença”
Pedro Vasconcelos
Pesquisador do IEC
Pedro Vasconcelos
Pesquisador do IEC
Surto
Antes do resultado
final dos estudos, especialistas da área já começam a juntar indícios e afirmam
ter sim motivo de alerta. Coincidência ou não, o Leste de Minas, onde se
descobriu a presença dos mosquitos infectados, foi uma região de explosão de
casos no ano passado. Foram ao menos 150 confirmações da doença na regional,
conforme dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG).
“Claro que há
chances de o albopictus ter agravado o surto no leste mineiro
em 2017. Ele tem a capacidade de fazer a conexão entre a zona rural e o meio
urbano e está em grande quantidade no Estado”, destaca virologista Flávio
Guimarães da Fonseca.
A infectologista
Silvia Hees de Carvalho concorda com o aumento dos riscos de contaminação e
explica que a situação na porção leste do Estado amenizou neste ano basicamente
por dois fatores.
Primeiro, porque só
é possível ter febre amarela uma vez na vida. Logo, uma parcela da população
ficou imune. Segundo, porque, com o aumento dos casos, muitos recorreram à
vacinação. “Aliás, a única forma de se prevenir é com a vacina. Que é segura e
necessária agora”, observa. Até o momento, mais de 3 milhões de mineiros ainda
não foram imunizados.
Para a professora do
Departamento de Microbiologia da UFMG, Erna Kroton, a luz amarela foi acesa nos
grandes centros urbanos. Ela lembra que, na capital, onde vários bairros são
arborizados, há uma forte presença dessa espécie de mosquito. “Pelo menos 5%
dos insetos Aedes de BH são do tipo albopictus. No
interior, o índice sobe para 30%”, informa.
A SES-MG explica que
a descoberta da contaminação desse mosquito não altera a forma de controle
vetorial no Estado, já que todos os potenciais vetores já são combatidos
sistematicamente.
“Destaca-se que a
circulação dessa espécie de Aedes, conforme informado pelo IEC, é
mais silvestre que urbana, e que não há qualquer conclusão sobre o potencial de
transmissão dessa espécie em relação à febre amarela”, diz, em nota.
A pasta ressalta que
os estudos ainda estão em andamento e que diversidade de vetores não seria justificativa
para casos confirmados no Leste de Minas, onde não há casos confirmados
neste ano.


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