Você é feliz ou finge ser?
Simone
Demolinari
É difícil chegar a um acordo sobre o que é felicidade, por isso costumamos associa-la ao prazer. O que é um grande equivoco. O prazer é instável, e a sensação provocada, logo se torna neutra ou até desprazeirosa. Por exemplo: saborear um prato preferido pode ser uma grande fonte de prazer, saboreá-lo todos os dias pode nos levar à repulsa. O prazer se exaure com a rotina e logo em seguida vem o tédio e a nova necessidade de voltar a sentir prazer. Um buraco sem fundo, que estimula inquietude e ansiedade, sentimentos opostos a sensação de felicidade.
Ao contrário do que
muitos pensam, a felicidade não está na euforia. Ela está mais próxima da
calmaria - um estado de plenitude e equilíbrio emocional que gera uma sensação
de paz e bem estar consigo.
O psicólogo Mihaly
Csikszentmihalyi denominou de “autotélicas” as pessoas que ele considera as
mais felizes. Segundo ele, são indivíduos que precisam de poucos bens
materiais, pouco entretenimento, lazer, pouco conforto, poder ou fama, sendo
mais voltadas para si não se sentindo ameaçadas ou seduzidas pelas recompensas
externas.
Isso faz com que
esses indivíduos não sintam um vazio existencial, ao contrário, sentem- se
completos e satisfeitos com tudo ao seu redor, pois suas motivações são sempre
internas. Daí a origem da palavra autotélico – “auto” que significa “por si
mesmo” e “telos” que significa “fim”. Pessoas autotélicas tendem a registrar
permanentemente estados emocionais positivos. Sentem que sua vida é mais
significativa, pois, para elas, o processo já é o próprio resultado. Possuem a
competência de viver de maneira independente e com autonomia emocional. Estão
inteiros em si, independentes dos eventos externos.
Sendo assim, os
indivíduos de personalidade autotélicas sentem felicidade em qualquer atividade,
da mais útil a mais inútil; da mais simples a mais sofisticada, incluindo desde
atividades criativas, música, esporte, jogos, aprendizado, hobbies até estudar,
dirigir, limpar a casa, entre outras.
Este conceito nos
ajuda a entender pessoas com alto nível de felicidade mesmo sem grandes
conquistas materiais e financeiras. Decifra também a atitude daqueles que
abandonam altos salários em busca de algo que faça mais sentido para sua vida.
No entanto, é
preciso ficar atento às seduções e promessas de felicidade que são vendidas
socialmente através de imagens e fotografias. Ser feliz é uma habilidade que
pode ser desenvolvida, porém, está longe da autoafirmação e
exibicionismo. Depende de esforço cotidiano e um bom nível de
autoconhecimento. Aliás, se autoconhecer deveria ser um exercício praticado
diariamente por todos. Quanto mais mergulhamos em nós, mais competentes
ficamos para gerir, com honestidade, nosso complexo mundo interior.
Como bem nos lembra
Shakespeare em Hamlet: “seja fiel a si mesmo e jamais precisará ser falso com
ninguém”
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