Um mês talvez decisivo
Manoel Hygino
Um mês muito
delicado o que começou, entre tantos que a nação atravessa em tempos mais
recentes. O julgamento de um processo, em segunda instância, em que é acusado
um ex-presidente da República, faz voltar as atenções para os votos dos
desembargadores em Porto Alegre, no dia 24.
No sentimento do
homem brasileiro, vai-se mais do que julgar um ex-chefe de Executivo, mas todo
o período que vem desde o fim do regime militar. Evidentemente com ênfase
para os escândalos que eclodiram no país nos últimos decênios. Assim será,
porque se compreenderá que o cidadão, acompanhando de perto os casos, terá pelo
menos ocasião de uma avaliação sobre o comportamento da sociedade nestes dias
tumultuosos. Persiste uma réstia de esperança e de confiança de que se cumprirá
a lei. O Brasil conhece nomes, que não são poucos, dos que se envolveram em
falcatruas, que falta apurar integralmente.
Em verdade, a nação
se sente dilacerada em seu pudor, ética e tradições. O assoberbamento do número
de ações nos tribunais em fase de investigações demonstra que andamos mal, mas
o que falta chegar para conseguir justiça é muito maior, pois se tornou enorme
o seu volume.
O brasileiro,
arguto, não deseja passar por omisso ou conivente, mesmo pelo silêncio. A hora
é difícil, todos o reconhecemos, mas não se pode caranguejar. No caso do
notório grupo Joesley Batista, o jurista Yves Gandra se manifestou: “são os
maiores corruptores da história do Brasil e receberam anistia penal completa.
Isso me revolta. Este é um país para os espertos, não para os honestos. E tudo
isso com dinheiro meu e seu. Passaram um atestado de imbecis a todos os
brasileiros”.
Não obstante, os
corruptores ainda podem ser punidos. Sanção não é castigo, mas mera obediência
por aquilo que a sociedade, através de princípios e normas, estabeleceu para os
que se desviaram da correta observância de primados
irreversíveis. Crimes não podem ser esquecidos, principalmente
quando se sabe que os autores, por força de privilégios e ações espúrias,
trabalhavam em benefício próprio, contra o interesse coletivo.
Há poucos dias, a
Igreja Católica italiana se negou a celebrar um funeral público para um dos
mais temidos e violentos chefões da máfia siciliana, Toto Rina, falecido aos 87
anos. A máfia está sob vigilância há décadas. Em junho de 2014, todos os
membros da Ndrangheta, a poderosa facção calabresa, foram excomungados por
Francisco, que não ignora o que ocorre até nos corredores do Vaticano.
Não longe, a Justiça alemã acusou um ex-guarda de campo de extermínio
nazista de Majanek, suspeito de cumplicidade na morte de 17 mil judeus. O réu
está com 96 anos.
Se idade fosse razão
essencial para inocentar, os generais argentinos envolvidos na ditadura militar
mais recente não estariam em julgamento, nem seriam condenados. É uma hora
grave e nações terão de transpô-la para resguardar seu futuro. Há reptos por
todos os lados e a insatisfação se generalizou.
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