Neste incerto janeiro
Manoel Hygino
No término de ano,
hora do balanço nos estoques dos estabelecimentos comerciais, trabalhoso
esforço físico nas antigas lojas do interior, mas imprescindível. Na alta
administração pública, levantamento do que ficou para trás e orçamento do que se
terá à frente.
Embora os numerosos
votos de felicidade, pairava dúvida sobre o futuro a curto, médio e longo
prazos. O brasileiro se cansa em aguardar o melhor e desiludir-se. Regra geral.
Assim, quem leu o noticiário encontrará números dolorosos. Em 2016, o Brasil
tinha 24,8 milhões de brasileiros com renda inferior a 1/4 do salário mínimo,
ou seja, houve 53% de aumento em comparação com 2014, segundo o IBGE.
Significa: 12,1% da população vive na miséria. Consoante o Ipea, famílias com
1/4 do salário mínimo per capita estão em “pobreza extrema”. Os que vivem com
até meio salário mínimo estão em pobreza absoluta”.
Ampliemos o
raciocínio. O Banco Mundial estabelece como situação de pobreza extrema a linha
de US$ 5,5/dia para consumo individual. Em 2016, esse valor correspondia, no
Brasil, ao rendimento de R$ 387,15 por pessoa. Com base nesta classificação,
havia por aqui 52,3 milhões de patrícios em pobreza extrema. E quem está
efetivamente nesta condição vive ou sobrevive? Fica a pergunta.
Outra estatística,
também do IBGE, de meados de dezembro: o número de jovens de 16 a 29 anos, que
não estudam ou trabalham, chegara a 41,25 milhões em 2016 – isto é 25,8% do
total de brasileiros nesta faixa etária. O grupo de “nem-nem”, como apelidados,
evoluiu para 28,5% em quatro anos. Evidentemente, a culpa não é só do governo
Temer.
Também no último mês
do ano soubemos que, com base em estudo de consultoria, o consumidor
residencial brasileiro teria de lidar com dois anos de reajustes na energia,
bem acima da inflação. Causas: regime de chuvas insuficiente e crescimento dos
encargos sociais. Neste final de janeiro, São Pedro reduziu as
perspectivas de tarifas mais elevadas. Houve chuvas. Resta agradecer mais.
O Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor divulgou, neste ínterim, pesquisa mostrando
que tarifas cobradas pelos cinco maiores bancos do país subiram bem acima da
inflação no período novembro 2016–outubro 2017.
Mas o consumidor não
está nem aí, ao que parece. A razão está, suponho, no fato de o Brasil ser o
segundo país do mundo em que as pessoas mais têm percepção equivocada sobre a
realidade, segundo o Instituto Ipsos Mori. Em primeiro lugar, a África do Sul.
Depois de Brasil vêm Filipinas, Peru e Índia. Próximas da realidade: Suécia,
Noruega, Dinamarca, Espanha e Montenegro.
Confesso que
descobri só recentemente o vocábulo “furdunço”, como classificaria a partida de
futebol entre Flamengo e Independiente, na Argentina, no final da Copa
Sul-Americana. Houve uma sucessão de brigas em derredor do Maracanã, centenas
de torcedores invadiram o estádio sem ingressos, houve pancadaria por todo
lado; feridos, balas de borracha e gás lacrimogêneo contra os baderneiros. E
somos, ou éramos, considerados os reis do futebol, mas o espetáculo que todo o
mundo viu envergonhou a nação e feriu nossos foros de civilização. Belo
exemplo, não é?

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