O desafio de viver com pouco
Simone
Demolinari
Somos constantemente
estimulados a consumir. A compra fácil e rápida como passaporte para a
felicidade sempre esteve presente em nosso meio, mas ganha cada vez mais força,
em tempos de internet.
Consumir em exagero
pode estar associado à vaidade, à competitividade (as pessoas do meu convívio
tem, eu não posso ficar atrás), ao exibicionismo, para atenuar a insegurança ou
para encobrir um estado de profunda infelicidade e angustia. O “Pai da Psicanálise”,
Sigmund Freud, apontou que, basicamente, o ser humano busca o prazer para
evitar a dor. Mas é aí que mora o perigo.
O consumismo, que em
tese nos parece prazeroso, é muito mais fonte de infelicidade do que de
felicidade. O prazer que deriva do consumo é efêmero e não tem fim. Um tempo
após consumir, vem uma nova necessidade, e depois outra – um buraco sem fundo.
Além de toda essa dinâmica que permeia o consumo, ele ainda desperta inveja,
cobiça e disputa, sentimentos diametralmente opostos à proposta de felicidade.
Não é à toa que há
muitas pessoas extremamente consumistas, com o guarda roupas abarrotado de
supérfluos, variedade de sapatos, bolsas, coleções de relógios, carros, e mesmo
assim continuam insatisfeitas. Ao passo que outras, que vivem com pouco, se
sentem mais completas. O consumo não preenche, o preenchimento é interno.
Nada mais apropriado
que a citação de Schopenhauer: “A nossa felicidade depende muito mais do que
temos em nossa cabeça, do que nos nossos bolsos”. Atualmente, muito se fala
sobre a cultura “minimalista”, um estilo de vida simples cujo objetivo é se
desfazer do excesso e viver com o que realmente é fundamental. A proposta é se
livrar das pressões do consumismo compulsivo que a sociedade moderna nos impõe.
Muitos de nós já
temos a consciência do nosso “excesso” quando afirmamos usar apenas um pequeno
percentual daquilo que possuímos. Difícil é conseguir desapegar dos pertences.
A premissa “menos é
mais”, ganha dimensão literal no minimalismo.
Sob a ótica
racional, viver com menos, é mais vantajoso, mais prático, mais econômico. Casa
mais vazia de móveis, de roupas, de papeis, mais espaço, mais dinheiro no bolso
para viajar e aproveitar melhor o tempo. Com menos foco no material, abre-se
mais espaço na vida para novos prazeres e experiências. A ideia de ser
minimalista ganhou recentemente um documentário na televisão e tem atraído cada
vez mais adeptos. O que não é nada mal em tempos de crise.
E você, o que acha
da ideia de se desfazer daquelas coisas que estão há anos paradas no guarda
roupas, na estante, gavetas, e no resto da casa e que você não usa mais, ou não
tem utilidade nenhuma?
Muitas pessoas
aproveitam a época de natal, para fazer doações de seus excessos. Mas é
importante evitar o autoengano: desapegar, para lá na frente adquirir
novamente, não é minimalismo, é apenas uma maneira de justificar um novo
consumo.
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