Urológica: Temer e Juscelino
Manoel Hygino
Antes, pouco se
usava a palavra “próstata”. Refere-se, no entanto à glândula do sexo masculino
humano, localizada no colo inferior da bexiga. Esta semana, o vocábulo voltou a
ser assunto, quando o presidente Michel Temer foi acometido de problema nas vias
urinárias e se submeteu a um procedimento em São Paulo, para onde foi
transferido em caráter de urgência.
Na quarta-feira, dia
13, ele foi internado, no princípio da tarde, com um quadro de dificuldade
urinária e diagnóstico de estreitamento uretral, como constou de boletim
médico. A recuperação exigirá 48 horas, sendo o chefe do governo acompanhado
pelas equipes médicas dos doutores Roberto Kalil Filho e Miguel Srougi.
Trata-se de uma
intervenção de pequeno porte – agora uma uretrotomia interna, realizada no
Hospital Sírio-Libanês, como nas vezes anteriores. O presidente tem mais de 70
anos e se cuida, como conveniente, aproveitando agora a evolução da assistência
médico-cirúrgica.
Juscelino, quando
tinha 68 anos, enfrentou problema semelhante. Exilado, sofreu uma lesão maligna
de próstata, decidindo tratar-se no “New York Hospital”, sendo operado por um
professor de alta competência. Necessitou de três cirurgias seguidas para
debelar a doença, segundo o médico Fernando Araújo, dos mais conceituados de Minas,
ex-presidente da Academia Mineira de Medicina e da Associação Médica de Minas
Gerais.
O caso do
diamantinense ilustre, aliás, um dos pioneiros da urologia em Minas, médico do
São Lucas e da Santa Casa, depois do Hospital Militar, é descrito em minúcias
por Fernando Araújo: as duas primeiras cirurgias foram “por via endoscópica e
demonstraram a presença de células malignas. A terceira, radical, deixou as
consequentes sequelas como incontinência urinária”.
Depois, conta:
“tivemos uma triste conversa telefônica com ele e Dona Sarah, antes da
cirurgia, pois eles queriam dados acerca da sobrevida pós-operatória e da
necessidade da operação. Optamos pela cirurgia, o que ele fez naquele hospital.
Quando retornou ao Brasil, iniciamos o tratamento daquela desagradável
incontinência urinária, que ele tanto tratara em seus antigos clientes. Pouco
tempo após, faleceu num acidente automobilístico”.
Juscelino era
autoridade em urologia. Um registro da época é dado de Fernando Araújo, que
evoca um paciente acometido de tuberculose renal, e do qual ele fazia a
extirpação do rim doente: “a artéria renal foi pinçada vigorosamente mas, o que
era muito comum nessas cirurgias, não oferecia extensão suficiente para ser
ligada com categute ou outro tipo de fio cirúrgico. O único recurso seria
manter a artéria pinçada. O caso era grave e o paciente necessitaria de uma
assistência pós-operatória intensiva o que seria muito difícil na enfermaria
geral, onde estava internado. Seria, nos dias de hoje, um caso para CTI, o que
não existia à época. A solução foi transferi-lo para um quarto particular e
como era uma pessoa muito humilde, inteiramente sem recursos, isto foi feito às
expensas do doutor Juscelino que passou toda a noite – e era noite de Natal –
ao seu lado. Durante os quatro dias seguintes, para evitar a possibilidade de
uma hemorragia, que poderia ser fatal ao paciente, o jovem cirurgião permaneceu
junto ao seu leito”.
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