O visgo que há em Portugal
Manoel Hygino
Brasileiros,
descendentes ou não de lusitanos, estão fazendo a viagem de volta de Pedro
Álvares Cabral – uso o nome completo do nauta para evitar confusão. Portugal
cresce como destino de nossos turistas. Há os que vão pela primeira vez e se
encantam, até porque encontram pessoas que, na Europa, usam língua semelhante à
nossa. Não digo que seja rigorosamente igual.
Desiludidos do
Brasil atual, acabrunhados por perceberem que a corrupção e os escândalos
decorrentes continuam sem previsão de término, há os que arrumam a mala e fazem
o retorno pelo Atlântico.
Lembro, por exemplo,
o escritor Ronaldo Cagiano (ele é de Cataguases) e a esposa, Eltane, de mesmo
ofício, que deixaram a gloriosa São Paulo depois de anos e se instalaram na
santa terrinha. Desenganaram-se aqui de vez, após um sequestro de que foram
vítimas na maior cidade do país. Escolheram um pedaço de mundo em que estão
agora em paz, porque mais bem protegidos da ação permanente dos marginais.
Poderia citar outros
casos e personagens. Por agora, lembro Ricardo Arnaldo Malheiros Fiuza,
professor universitário de teoria do estado e de direito constitucional,
jornalista, editor-adjunto da Del Rey, membro do Instituto dos Advogados de
Minas Gerais e do Instituto Histórico e Geográfico, e com outros títulos que
ocupariam toda esta coluna. Entre eles, membro das academias Mineira de Letras
e Mineira de Letras Jurídicas.
Ele não se transfere
para Portugal, terra do avô, que era Manoel – Bento Malheiros, natural de Ponte
de Lima, na região do Minho. O ascendente veio para o Brasil no século XIX,
estabeleceu-se em Ouro Preto, casou-se com a professora Francisca de Paula
Penido Malheiros. Ali, integrou a Mesa Administrativa da Santa Casa e da
Associação Comercial.
Visitou Portugal,
pela primeira vez, em 1975, e desde então a pátria avoenga se inscreveu no
roteiro de suas viagens. Fez cursos na Universidade de Évora, no Alentejo, na
Universidade de Lisboa, de Formação de Magistrados no Centro de Estados
Judiciários de Portugal, trazendo novos conhecimentos para a Escola Judicial do
TJMG. Deu-se tão bem que decidiu residir em Lisboa e lá permaneceu um ano com a
família, cuja esposa, Janice, fez história da arte na Fundação Gulbenkian,
enquanto os filhos frequentavam escolas públicas de Lisboa. Nada mau.
Sua ligação com
Portugal se estreitou. Já Oficial da Ordem do Infante Dom Henrique, do Grêmio
Literário de Lisboa, fundado pela rainha Dona Maria II, fez-se membro do Centro
da Comunidade Luso-Brasileira, cá de Beagá. Não vou estender-me, pela razão
enunciada: o espaço reduzido.
Com saudações
luso-brasileiras, alegria e honra, Ricardo A. Malheiros Fiuza comunica que,
desde 3 de novembro, é cidadão português de origem (jus sanguíneo), sem deixar,
é claro, de ser brasileiro com esperança...”.
Português também,
mas sem abandonar o Brasil, Minas, nossa cidade, Belo Horizonte, em segundo
plano. É bom evocar Rosa: “Minas – atente, olha, se lembra, sente, pensa. Minas
– a gente não sabe. Sei um pouco, seu facies, a natureza física – muros montes
e ultramontes, vales escorregadios, os andantes belos rios, as linhas de
cumeeiras, a aeroplanície ou cimos profundamente altos, azuis, que já estão nos
sonhos – a teoria dessa paisagem... Saberei que é muito Brasil, em ponto de
dentro, Brasil conteúdo, a razão do assunto”.
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