O riso que se perde
Manoel Hygino
Crescentemente me
inquieto. Pelas folhas, tomo conhecimento de que Tiririca anuncia que não
disputará reeleição ano que vem. “Totalmente decepcionado” com a política após
dois mandatos, conquistados com votações recordes”, ele é peremptório: “Não
volto”.
Acrescenta: “Esperava chegar aqui e aprovar projetos, mas a mecânica daqui é complicada”. Sem sequer um único discurso, promete só falar, no final do mandato, “despedindo-se da galera”.
Acrescenta: “Esperava chegar aqui e aprovar projetos, mas a mecânica daqui é complicada”. Sem sequer um único discurso, promete só falar, no final do mandato, “despedindo-se da galera”.
Verdadeiramente, não
acho qualquer graça de coisas que ora acontecem no pedaço de terra descoberto
por Cabral, o Pedro Álvares, séculos depois território de que se apossou ou em
que se empossou – outro Cabral, o Sérgio, ex-governador, preso em local muito
próprio: Benfica.
Não é, sem embargo,
para rir. No último dia 22, a humorista Cláudia Rodrigues foi internada no
Hospital Albert Einstein, em São Paulo, às pressas. Um excelente
estabelecimento, por sinal. Ela sofreu um surto de esclerose múltipla, e –
segundo sua empresária – não havia previsão de alta. Seu estado de saúde não
era dos melhores, tanto que recolhida a isolamento, embora lúcida e respirando
sem ajuda de aparelhos.
Pelos corredores, os
indefectíveis comentários. O episódio resultaria de baixa imunidade, após
contato com alguém com catapora. Nestas horas, apressa-se em opinar e dar
palpites, provando a tese de que todos temos de médico e louco, um pouco.
Alguém lembrou que a artista também sofrera de herpes zoster, “que estourara
por dentro e por fora”. Acrescentava-se que corria o risco de ficar cega, como
revelara a empresária. Tudo evidentemente a esclarecer pelos médicos, que
procuravam definir um diagnóstico seguro.
Os humoristas não
devem achar bons o capricho e as contingências da hora. Pois aconteceu na mesma
data. O humorista, cantor e compositor Moacyr Franco, há 20 anos no programa “A
Praça é Nossa”, do SBT, foi demitido pela emissora de Sílvio Santos. Ele já
apresentara “A mulher é um show”, em 1986, voltando no ano seguinte para o
“Concurso de Paródias”.
Não parou por aí o
artista de Ituiutaba, pontal do Triângulo Mineiro, maior produtor de arroz do
Brasil em determinada época. Naquela televisão, atuou nos seriados “Ô...
Coitado” (1997–1999), com a também mineira Gorete Milagres. Em seguida, em “Meu
Cunhado” (2004–2006) e, desde 2005, no “A Praça é Nossa”, interpretando o
caipira Jeca Gay, que me perdoem a cacofonia.
Carlos Alberto de
Nóbrega se disse bastante abalado. “Somos amigos há 62 anos. Quando soube que
ele seria cortado, foi um choque. Eu disse à direção da casa que não
conseguiria dar a notícia, porque iria começar a chorar na hora. Ele é um dos
artistas mais injustiçados no nosso país. Ele é um gênio, tem uma versatilidade
como poucos. É um ótimo ator, humorista, escreve muito bem, é um poeta, canta
muito bem... Era um absurdo ele ter somente cinco minutos de participação na
Praça. Mas a empresa não é minha, e a decisão também não foi minha. Estou muito
triste”.
Os fatos os
demonstram que a situação é séria, mesmo entre os que ganham para fazer as
pessoas rirem. Ridendo castigat mores. Fica claro que vamos
perdendo os ases dos que contam anedotas e fabricantes de risos e gargalhadas.
É uma constatação profundamente desagradável nesta hora em que as más notícias
prosperam.
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