Morte macabra na Califórnia
Manoel Hygino
Completou 83 anos no
dia 12 de novembro e, dois dias depois, no dia 14, morreu. O óbito foi às 20h13
locais, em um hospital, cujo nome não acompanhou a informação. Refiro-me a
Charles Manson, um dos personagens do meu livro “Hippies, protesto ou modismo”,
por sinal recebido elogiosamente por A. A. Mello Cançado, que assinava crônica
no antigo “O Diário”, de Belo Horizonte. Professor de Direito Romano, o mestre
sempre foi generoso comigo e meus escritos.
Na data de
aniversário, Manson pediu liberdade condicional, rejeitada como em outras
vezes, após condenado a prisão perpétua pela morte de várias pessoas na
Califórnia, em agosto de 1969. Entre elas, a da atriz Sharon Tate, então com 26
anos, grávida de oito meses e meio. Era esposa do cineasta Roman Polanski,
diretor de filmes de sucesso internacional, e ainda com relativa popularidade.
O boletim do
Departamento de Correção e Reabilitação da Califórnia, CDCR, foi econômico em
palavras. Esclareceu que o preso “morreu de causas naturais”, aquelas não
permitidas por ele pelo menos a sete pessoas, há quase cinco décadas. Para seu
macabro desiderato, Charles Manson reuniu pessoas, de que era guru, formando
uma “família”, como aliás o grupo era conhecido. À guisa de curiosidade, lembro
que do laudo da execução de Tiradentes constava que ele falecera também “por
morte natural”, na forca.
Pela mídia, fiquei
agora sabendo que o “caso” continua despertando interesse na sociedade
norte-americana. Não só Tio Sam, contudo. Todo o mundo conhece a trajetória
mórbido-criminosa de Manson, no decorrer dos 40 anos de cadeia, que o livraram
da pena de morte a que fora inicialmente condenado. O mesmo acontecera com
discípulas envolvidas na trama e no ato final. A mão fatal foi de Susan Atkins,
que esfaqueou a atriz de Hollywood. Para marcar mais profundamente a cena,
ainda escreveu com o sangue da vítima, na porta de entrada da casa, a palavra
“pig”, porco.
Por envolver gente
conhecida na sociedade, mesmo artistas de Hollywood, comentou-se enormemente o
plano macabro de Manson, uma figura rara. Nascido em 12 de novembro de 1934, em
Cincinnati, no norte dos Estados Unidos, filho de uma jovem de 16 anos, o
menino sequer conheceu o pai e da mãe nem se fala. Adulto, começou a formar a
sua grei, com mulheres ingênuas e perdidas, que viviam à margem. Então instalou
o seu harém familiar, que gerou muitos bebês. Cuidou de ter ao menos um filho
com cada uma de suas adeptas e, para maior enlevo de todos, a droga circulava
naturalmente na vivência coletiva.
Segundo versões
fidedignas, Charles Manson incentivava os assassinatos para provocar a explosão
de descontentamento entre brancos e negros, batizando o programa de “Helter
Skelter”, título de uma das músicas de sucesso dos Beatles. Daí, o liame de
ideias na época, que incentivavam mais do que “paz e amor”, pelo que se
depreende.
Entrevistado na
prisão, ao ser perguntado que conselho daria aos jovens, ensinava, por detrás
da sua barba grande e revolta: “deixem uma marca para que o mundo saiba que
estiveram aqui”. No caso de Sharon, quando já se dizia a reencarnação de
Cristo, a inscrição foi de um vocábulo único: “Pig”. Identificava-se?
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