BH terá
exército de joaninha contra pragas urbanas
Tatiana Lagôa
Inseto será
reproduzido em biofábrica na capital para combater outras espécies, como a
mosca-branca
Símbolos de sorte e
apreciadas pela beleza, joaninhas serão usadas no combate à pragas em Belo
Horizonte. Um exército com milhares de vermelhinhas será criado em uma
biofábrica para atacar insetos que apresentam risco às hortas e árvores da
capital, como a mosca-branca, que dizimou dezenas de fícus nos últimos anos.
Apesar da aparência
frágil e da simpatia que desperta principalmente em crianças, as joaninhas são
carnívoras e predadoras naturais. Em casos extremos de falta de alimentos,
praticam até o canibalismo, comendo umas as outras. A expectativa é reduzir o
uso de pesticidas nas áreas verdes da cidade.
“Elas são vorazes e
quando ainda estão na fase de larvas podem se alimentar com até 80 pulgões por
dia. Na fase adulta, comem até 40 e conseguem voar e ir em busca de alimentos
em outros locais com surtos populacionais”, explica o idealizador do projeto, Dany
Silvio Amaral. Ele é o engenheiro agrônomo e doutor em entomologia, ramo da
biologia que estuda insetos.
Laboratório será montado no Parque das Mangabeiras e deve entrar em
operação em 2018
Biofábrica
O laboratório será
montado no Parque das Mangabeiras, na região Centro-Sul da cidade, e demandará
investimento de R$ 40 mil pela prefeitura. A meta é que a criação comece em
março de 2018. O local terá temperatura e umidade controladas, além de uma
“dieta” ideal aos insetos, regada a pulgões e ovos de larvas para que se
multipliquem.
Os bichos serão
soltos em parques e praças. Além do combate às pragas na arborização pública,
haverá distribuição gratuita para a população. Moradores que estiverem sofrendo
com ataques de pragas em hortas poderão contar com o apoio das joaninhas. Na
primeira fase, o projeto terá duração de três anos. Após o período, será
reavaliado.
Outro aliado
Além das joaninhas,
haverá a criação de crisopídeos, conhecidos como bicho-lixeiro. Eles serão um
reforço contra as pragas, mas entram como coadjuvantes porque só se alimentam
de insetos durante o período larval. Quando se tornam adultos, comem apenas o
pólen de plantas.
Segundo o Diretor de
Gestão Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte,
Afonso Henrique Fraga, o objetivo é distribuir 50 mil joaninhas e crisopídeos
nos três primeiros anos.
Apesar da eficiência
no controle de algumas pragas, os animais não são capazes de devorar os
besouros metálicos, atual praga que assola várias árvores de BH. “Nós ainda
estamos pesquisando para tentar identificar um predador natural dos besouros”,
diz Afonso Henrique Fraga.
Estratégia a ser
adotada foi inspirada em projeto desenvolvido em Paris
O uso de joaninhas
elimina a necessidade de agro-tóxicos no campo e garante o equilíbrio ecológico
em grandes centros urbanos. A estratégia já foi testada em plantações no Brasil
e em parques ao redor do mundo. Em Paris, na França, foram distribuídas
larvas do inseto para a população no início deste ano. O objetivo era impedir o
avanço de pragas nas plantas e flores dos jardins, sacadas das casas e praças.
A medida, inclusive,
foi uma das inspirações para a ideia que será adotada em BH, segundo o
idealizador do projeto, Dany Silvio Amaral. Na Bahia, a Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) já vinha estudando o comportamento das
joaninhas para esse fim. “Em 2002, fizemos testes em uma plantação de jiló que
tinha em média 73 pulgões por folhas. Em 23 dias reduzimos para três”, afirma o
entomologista responsável pela pesquisa por lá, Nilton Fritzons Sanches.
A inserção do inseto
do bem não apresenta risco de desequilíbrio para o meio ambiente. “É uma
espécie nativa que já está adaptada aqui e tem como vantagem o fato de ser generalista
e comer vários tipos de pragas”, explica Madelaine Venzon, especialista em
entomologia e pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
(Epamig).
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