O submarino que não voltou
Manoel Hygino
Os jornais de sábado
– 25 de novembro de 2017 – davam informações sobre o submarino argentino ARA
San Juan, desaparecido então há dez dias no Atlântico Sul, com 44 tripulantes.
O presidente Maurício Macri assegurou que as buscas continuavam, contando com o
apoio total da comunidade internacional e avanços tecnológicos. A embarcação
dera sua última mensagem no dia 15 de novembro, quando navegava em direção à
sua base no porto de Mar del Plata, a 400 quilômetros ao sul de Buenos Aires.
Esse tipo de
tragédia já inspirou mais de um filme. Assim, se repetem os acontecimentos de
2000, na Rússia, quando um submarino nuclear daquele país “estava afundando no
Mar de Barents, levando consigo 118 tripulantes, para usar as palavras da
jornalista Masha Gessen. Ela confessa: “De todas as histórias dolorosas que
precisei cobrir e que o povo da Rússia teve de testemunhar, o desastre do Kursk
foi provavelmente a mais devastadora.
Durante nove dias,
as mães, as esposas e os filhos dos homens que estavam a bordo – e, junto com eles,
a Rússia inteira – conservavam a esperança de que alguns deles ainda estivessem
vivos. Todo o país se manteve em vigilância enquanto a Marinha e o governo se
atarantavam em tentativas de resgate. Equipes da Noruega e da Grã-Bretanha se
puseram à disposição, mas foram rejeitadas, supostamente em virtude de cuidados
relativos à segurança. E o pior foi que o novo presidente (Putin) ficou calado:
estava de férias no Mar Negro”.
O Kursk era uma
metáfora da Rússia pós-soviética. Começara a ser construído em 1990, quando a
União Soviética estava prestes a extinguir-se. Ficou pronto em 1994, “enquanto
o império ruía”. O submarino nuclear era imenso, mas não passara por manutenção
desde que lançado. Participara de sua primeira missão no verão de 1999, quando
Putin subiu ao poder e participaria da primeira operação importante de
treinamento exatamente em agosto de 2000.
Gessen conta uma
história dolorosa: o submarino e a própria Frota Russa do Norte não estavam
preparados para o exercício. Os navios e os homens não preenchiam as exigências
técnicas e legais para um exercício militar convencional.
Eis parte do texto
original: “O submarino havia sido equipado com torpedos de treinamento, alguns
dos quais com a data de validade vencida e o resto sem uma verificação
adequada. Alguns tinham furos de ferrugem visíveis: os anéis de conexão de
borracha de outros já tinham sido usados inúmeras vezes, numa nítida violação
aos regulamentos de segurança. A morte está conosco aqui a bordo”, disse um dos
tripulantes à sua mãe, referindo-se aos torpedos, seis dias antes do acidente”.
Temeridade e falta
de respeito à vida. Os depoimentos são dramáticos. Foi um dos projeteis que
pegou fogo e explodiu. Houve duas explosões dentro do submarino e a maioria da
tripulação teve morte instantânea. Vinte e seis sobreviventes correram para uma
área não afetada no interior da embarcação e esperaram socorro. Dispunham de
equipamento para sobrevivência por algum tempo e confiavam ser salvos porque
participavam de um exercício militar.
Os tremores da
explosão foram captados por uma estação sísmica da Noruega, mas transcorreram
nove horas para se iniciar o resgate frustrado. Era tarde, muito tarde, mesmo
com os sobreviventes batendo o SOS pelo Código Morse.
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