Chuva de pedras em Brasília
Manoel Hygino
As chuvas chegaram
ou estão chegando, dependendo da região deste país continental. Por enquanto,
não houve elevação do nível das águas nas represas expressivas no fornecimento
de água e energia às regiões mais populosas. Espera-se que melhore, embora a situação
não mude muito com a velocidade esperada.
As tarifas, porém,
já foram aumentadas e as contas de luz em outubro já serão acrescidas. No Dia
de São Miguel, em que a crença popular indica como a primeira na temporada das
águas do Norte de Minas, choveu no dia emblemático. Também em Belo Horizonte e
outros pedaços do Brasil. Só há esperança, embora os preços do consumo
energético já estejam definidos. Como também já o foi o horário de verão, que
agrada e desagrada.
Em Brasília, o tempo
permanece instável, alta temperatura política, o “affair” Aécio na boca das
pessoas e dos parlamentares nas duas casas do Congresso Nacional. Enquanto
isso, corre o tempo para votação da segunda denúncia contra Michel Temer, de
que será relator o deputado Bonifácio Andrada, o mais longevo da Câmara. Os
jornais comentam que – desde antes da Independência – num 1822 remoto, a
família influencia a vida nacional. Não sem razão, há uma estátua de José
Bonifácio, em Manhattan, em “Downtown” , perto de onde se toma a barca para a ilha
em que se encontra a estátua da Liberdade.
A pauta é
eminentemente política, mas o Judiciário se encontra na berlinda e o Executivo
sob inusitada vigilância. O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, primo do
ex-presidente Fernando Collor, manteve-se em evidência durante a semana finda,
ao passo que o notório companheiro na mais alta corte do país, Gilmar Mendes,
reduziu a exposição à imprensa. Do primeiro, ficou a frase: “estamos diante de
uma crise institucional”, cujo conteúdo é amainado com o competente, “mas será
suplantada porque a nossa democracia veio pra ficar”. Para servir a quem, eis a
questão.
Antônio Machado, em
festejada coluna, opina: “a crise real que nos consome é política, não
econômica. A dúvida é se saberemos reinventá-la”. E, se não conseguimos?
Pergunta o advogado do diabo. O jornalista explica: “a desordem política é a
sequela de uma degeneração social ampla e irrestrita e disso poucos falam.
Exemplos de um país sem rumo estão em toda parte”. Há casos terrivelmente
cabeludos aguardando decisões no Supremo, enquanto ponderável parte do tributo
arrecadado pela União, que passa de R$ 1,3 trilhão, é gasta sem critério.
Há inclinações à
ingovernabilidade e isso tem de ser contido. Precisamos suportar pelo menos até
o final do presente quatriênio. No ano que vem, a palavra final será do
eleitorado, que se espera e se confia saber votar. Em meio a todo o pandemônio,
o novo Refis, contendo o programa de refinanciamento de dívidas com a União,
evolui à base de interesses espúrios. Aprovado com modificações, incluirá até
acordo que beneficia empresas flagradas em esquema de desvio de dinheiro
público.
Dentro de pouco mais
de sessenta dias, alcançamos o ano eleitoral. O professor Sacha Calmon
pergunta: “temos um projeto nacional?”. Sem resposta, a chuva fez cair pedras
geladas sobre Brasília e redondezas. A advertência vem dos céus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário