A farda longe da turbulência
Manoel Hygino
Situação delicada
vive a nação. Mexeu-se numa caixa de maribondos – alguns preferem – num ninho
de cobras, e os bichos estranharam e se estranharam. Os membros dos três
Poderes assumem posições diferentes sobre problemas que avultam em nosso meio e
época, o que em princípio é natural. As divergências afloram entre seus
componentes e as dificuldades no de relacionamento tresdobram.
Repercutiu uma
declaração do general Antônio Hamilton Martins Mourão, quatro estrelas, durante
reunião da Loja Maçônica Grande Oriente, em Brasília, na sexta-feira, 15 de
setembro. O mestre de cerimônias, ou coisa que o valha, perguntou ao oficial,
fardado: “A Constituição Federal de 88 admite uma intervenção constitucional
com o emprego das Forças Armadas. Os poderes Executivos (sic) e os Legislativos
estão podres, cheio de corruptos. Não seria o momento dessa interrupção, dessa
intervenção, quando o presidente da República está sendo denunciado pela
segunda vez e só escapou da primeira denúncia por ter “comprado”, entre aspas,
membros da Câmara Federal? Observação: fechamento do Congresso, com convocações
gerais em 90 dias, sem a participação dos parlamentares envolvidos em qualquer
investigação. Gente nova”.
A incisiva, talvez
imprudente, inquirição teve resposta imediata, mas com observações cuidadosas
de Mourão. Resumo o que chamou a atenção: “Ou as instituições solucionam o
problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses
elementos envolvidos em todos os ilícitos ou então nós teremos que impor isso”.
A imposição é
expurgar dos cargos públicos relevantes os autores de ilicitudes amplamente
divulgadas por todos os meios de comunicação e pelos quatro cantos do mundo. O
que não será fácil,” pois “trará problemas”. O general evoca o passado, o
período revolucionário e a ditadura, enfatizando os “sucessivos ataques que
nossa Instituição (as Forças Armadas) recebeu, de forma covarde, de forma não
coerente com os fatos que ocorreram no período de 64 a 85. E isso marcou a
geração”, a sua.
Ressalta que
companheiros até hoje dizem assim: “poxa, nós buscamos fazer o melhor e levamos
pedradas de todas as formas”. Observa: “Mas, por outro lado, quando a gente
olha o juramento que nós fizemos, o nosso compromisso é com a nação, é com a
pátria, independente de sermos aplaudidos ou não. O que interessa é termos a
consciência tranquila de que fizemos o melhor e de que buscamos de qualquer
maneira atingir esse objetivo”.
Já o comandante do
Exército, general Eduardo Villas Boas, diante do eco das palavras do general
Mourão (que nada tem a ver com o general Olímpio, da Revolução), conceituou:
“Desde 1985 não somos responsáveis por turbulência na vida nacional e assim vai
prosseguir”. Além disso, “o emprego (da força do Exército) será sempre por
iniciativa de um dos Poderes. A Força “defende a manutenção da democracia, a
preservação da Constituição, além da proteção das instituições”.
As declarações são
suficientemente claras, pelo que depreendo. As iniciativas supervenientes
serão, portanto, de um dos três Poderes em hora propícia. O ministro Marco
Aurélio, do STF, reconhece: “Estamos diante de uma crise institucional. É muito
grave”. Os dias e noites são de expectativa, de até dorida inquietação para um
povo que já pagou R$ 1,5 trilhão em impostos neste dificultoso 2017.
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