Laços de família significam laços de amor?
Simone
Demolinari
Família é um ambiente propício para vivenciar emoções. É entre familiares que degustamos as mais diversas experiências, desde as afáveis como amor e ternura, até aquelas que tentamos evitar, como inveja e ódio.
Essa pluralidade de
sentimentos ocorre porque os vínculos biológicos não garantem laços de
afinidade.
Nos sentimos afins
quando nosso jeito de ser e modo de pensar encontram seus semelhantes. Desta
forma, torna-se perfeitamente possível existir uma afinidade maior entre
pessoas amigas, do que entre familiares. Alias, podemos ter, dentro da nossa
casa, modelo de conduta completamente diferente da nossa, fazendo com que
sintamos intensa repulsa.
Quando essa
diferença é grande, não há como negar que a admiração - sentimento primário do
amor - fique comprometida. E aí nos deparamos com uma realidade cruel: a
fraqueza dos laços sentimentais em relação aos nossos familiares.
Essa, é uma
constatação muito penosa, sobretudo pelo fato dela vir acompanhada de um forte
sentimento de culpa. Mas, é preciso entender melhor essa questão.
O amor é um
sentimento retroalimentado, ou seja: minha capacidade de amar aumenta à medida
que me sinto amado. Porém, quando não há essa via de mão dupla os laços
afetivos se enfraquecem.
Mas, por que alguém
pode não se sentir amado pelos seus familiares?
Explico melhor.
Percebemos o amor através de dois componentes fundamentais: um objetivo e o
outro subjetivo. O primeiro tem a ver com a parte prática da vida: cuidados
básicos, apoio financeiro, assistência, etc. Já o segundo componente é
percebido de forma particular através do acolhimento que recebemos - me
sinto acolhido quando o outro me compreende através da minha ótica e consegue
me proporcionar sensação de aconchego.
Para nos sentirmos
completamente amados é preciso a existência desses dois componentes. Apenas um
não basta. Na infância não temos a consciência disso, afinal de contas,
enquanto crianças, recebemos o que precisamos. Com o passar do tempo, nossas
necessidades deixam de ser apenas as de natureza básica. Queremos mais.
Queremos ser ouvidos, acolhidos, apoiados, reconhecidos.
Mas, nem sempre
encontramos esse amparo na família.
Muitas vezes temos
pais, mãe ou irmãos biológicos, mas não necessariamente emocionais. Essa
lacuna deixa a sensação de amor a meio mastro, causando decepção tristeza e até
afastamento.
Quando isso ocorre,
não adianta dizer “eu te amo” ou enviar mensagens de natureza amorosa sem que
elas venham acompanhadas de atitudes compatíveis. Isso só faz parecer
demagogia.
Aos que pretendem cultivar a união em família é necessário ter em mente que apenas o elo original não é suficiente, é preciso amor (em sua completude) para que haja uma troca emocional equilibrada, justa e verdadeira.
Aos que pretendem cultivar a união em família é necessário ter em mente que apenas o elo original não é suficiente, é preciso amor (em sua completude) para que haja uma troca emocional equilibrada, justa e verdadeira.
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