Pais sem dever
de casa: escola que ensina, lava uniforme e corta cabelo divide opiniões
Patrícia Santos
Dumont
Se um gênio da
lâmpada te desse a chance de se livrar da parte “chata” da criação dos filhos,
você toparia? Cederia à tentação de delegar o lado B da paternidade a terceiros
em nome de um tempo a mais de diversão com a prole? Ou resistiria, por
considerar que responsabilidades como alimentação balanceada e cabelos sempre
aparados também entram no pacote? O debate, que já era quente quando abordava a
questão da babá, pegou fogo após repercutir nas redes sociais a história de uma
escola paulista que oferece bem mais do que a educação formal: casa, comida e
roupa lavada, quase que literalmente.
A Ponto Omega, nos
Jardins, região nobre de São Paulo, recebe crianças de 3 meses a 6 anos e
disponibiliza uma rede de serviços que vão da educação básica com pedagogos a
corte de cabelo, uniformes limpos e passados e uma coleção de facilities –
nome dado aos extras –, que ultrapassam as preocupações
pedagógicas (leia entrevista com a diretora da Ponto Omega no fim da
matéria).
Cobiçado por uns,
condenado por outros, o combo – demandado, conforme a escola, pelos próprios
pais – é um ponto de apoio para que as mães, ocupadas também com a casa e o
trabalho, possam curtir os filhos com mais qualidade e tempo.
Professora na
Faculdade de Medicina da UFMG e presidente do Comitê de Saúde Escolar da
Sociedade Mineira de Pediatria (SMP), a neuropediatra Cláudia Machado Siqueira
é enfática ao analisar o assunto. Segundo ela, o vínculo familiar acaba
fragilizado.
“Sou a favor de
escola integral, uma ajuda na criação e garantia do desenvolvimento pleno dos
filhos. Mas a coisa radical, de uma escola onde não se pode opinar sobre o
corte de cabelo da criança ou o tipo de alimentação, onde há uma padronização,
para mim, não é ideal. Passa-se a terceirizar a questão do cuidado, da
criação”, diz.
Presidente do Comitê
da Primeira Infância da SMP, Laís Maria Santos Valadares e Valadares
compartilha da opinião e sugere cautela. Ela explica que é nos primeiros anos
de vida que são desenvolvidos os vínculos parentais responsáveis pelo
desenvolvimento psico-emocional da criança. “Não podemos julgar, mas é preciso
ter consciência das dificuldades que nos rodeiam ao optarmos por ter filhos.
Requer trabalho, às vezes renúncia, muita responsabilidade, amor e afeto. É
impossível criação com qualidade sem o mínimo de quantidade. O homem de amanhã
se faz principalmente nos três primeiros anos de vida”, alerta.
“Quando responsável e afetiva, a babá é muitas vezes necessária, podendo
ser uma opção para os pais, nunca uma substituta. Temos que lembrar
sempre: os primeiros anos de vida valem para sempre” - Laís Valadares e
Valadares, presidente do Comitê da Primeira Infância da sociedade mineira
de pediatria
Passar conhecimentos
deve ser a prioridade da instituição
Muito mais do que
escolher a escola pela amplitude e flexibilidade dos horários disponíveis ou
pela quantidade de atividades que apresenta, é preciso que os pais selecionem a
instituição pelas características que guarda em comum com a educação que é
oferecida em casa.
Pedagoga e mestre em
educação, a supervisora pedagógica da Editora Positivo, Raphaela Ribas Lupion
Gubert, lembra que o papel primordial dos estabelecimentos de ensino é dar
ênfase à aquisição de conhecimentos.
“A família é
responsável pela formação moral e educação ética e social da criança. À escola
cabe formá-la dando continuidade à educação familiar e ênfase à aquisição de
conhecimentos, reflexões sobre atitudes, condutas e posturas coletivas e
individuais. É aí que se instala o conflito”, explica.
Segundo a
especialista, envolvida diretamente nos processos educativos das escolas e que
atua há 13 anos com formação pedagógica, apesar de o modelo escolar em questão
atender a uma demanda apresentada pelos pais, é importante ter em mente que em
algum momento do dia a relação pai e filho precisa estar presente e ser
fortalecida.
“É necessário sentar
para ouvi-los (os filhos), saber como foi o dia na escola, o que aprenderam e
dar continuidade ao processo sob outra perspectiva que não a de formação de
conhecimento. É a hora também de compartilhar as angústias e os desafios que
enfrentamos nas diversas fases da vida”, reforça.
De acordo com
Raphaela Gubert, há coisas que a escola não consegue fazer pela família. O
grande desafio, na avaliação da pedagoga, é resgatar a importância da
humanização, refletindo, sempre, sobre a formação do jovem.
“O grande desafio do
século 21 é humanizar os humanos. Há coisas que não podem ser substituídas:
amor de pai e mãe não há como ser ofertado”, pontua.
ENTREVISTA:
Maria Drummond
Gruppi, psicóloga e pedagoga, diretora da escola Ponto Omega, em São Paulo
Qual é a linha
pedagógica seguida pela Ponto Omega e o perfil dos clientes atendidos?
O Berçário e Escola de Educação Infantil Ponto Omega trabalha com a linha teórica de Vygotsky (sócio-construtivismo). Atendemos crianças a partir de 3 meses e prestamos serviço para famílias de classe média alta. São 40 crianças no total. É possível escolher períodos de 4, 6, 8, 9 ou 12 horas.
A oferta de comida congelada, de babá, lavagem de uniforme e corte de cabelo foram demandas dos pais? Como foi incorporar esses serviços e como eles funcionam?
Temos à disposição mudas de roupa para todas as variações climáticas. A ideia era liberar a criança para todas as atividades, sem a preocupação se ela teria ou não roupa para ser trocada, e liberar a mãe da obrigação de arrumar as mochilas para serem levadas todos os dias. Aqui não são lavadas roupas que vêm de casa. A partir dos 3 anos, os alunos permanecem com os uniformes com que vieram de casa. A oferta de sopas e outras comidinhas para serem levadas é uma solicitação dos pais. Sem babá ou empregada, eles preferiam um alimento balanceado aos processados, industrializados.
E as babás, como funciona o serviço?
Não temos e não recomendamos babá para nenhuma família. As nossas professoras, formadas em pedagogia, se estão com agenda livre se colocam à disposição para ficar com as crianças, caso os pais precisem sair à noite ou no fim de semana. As crianças ficam bem olhadas, com quem já estão acostumadas, e os pais, tranquilos. Sobre o corte de cabelo, como aos sábados os salões de São Paulo são muito requisitados, os pais sugeriram o serviço para evitar de levar as crianças em um dia em que poderiam estar com elas em ambientes mais adequados.<EM>
Enquanto psicóloga, como você analisa essa necessidade cada vez mais constante de ter na escola um complemento às funções de pai e, principalmente, de mãe?
Os pais de hoje não podem mais contar com a rede de sustentação de anos atrás. Hoje, os avós não estão mais tão disponíveis, pois todos têm os próprios compromissos sociais. Entre deixar a criança em casa com uma babá, nem sempre capacitada, e deixá-la na escola, eles optam pela escola. O mesmo se dá com a alimentação. Entre preparar alimentos menos saudáveis ou comprar comida pronta, mil vezes oferecer um alimento preparado com orientação de nutricionista especializada. Porque recusar o apoio das professoras quando os pais precisam sair? O casal tem que abdicar da vida a dois porque não tem com quem deixar a criança enquanto sai para jantar? Quais as opções? Constranger familiares para ficar com os filhos, deixá-los aos cuidados de estranhos?
Como você interpreta, então, as reações negativas nas redes sociais a esse novo modelo oferecido pela Ponto Omega? Qual a sua opinião?
As pessoas que criticam não sabem do que estão falando. Aliás, escola nunca foi prioridade no Brasil. Em todos os países de primeiro mundo as crianças ficam na escola o dia todo, aprendendo, e muito! No Brasil, as pessoas estão atrasadas e acham que é melhor deixar a criança no computador, em casa, muitas vezes sozinha e sem ter o que fazer, do que deixá-la na escola. Quanta hipocrisia! Por isso estamos como estamos e onde estamos, andando para trás! Deixar crianças aos cuidados de alguém, menos preparado para lidar com criança, como motoristas e/ ou babás, enquanto eles trabalham ou saem é a melhor opção? O que fazemos não é terceirização da educação! Os pais que nos procuram sabem que não estão terceirizando afeto, mas serviços. Eles querem e buscam o melhor para os filhos e, aqui, no Ponto Omega, eles sabem que podem contar conosco e encontrar tudo isso.
O Berçário e Escola de Educação Infantil Ponto Omega trabalha com a linha teórica de Vygotsky (sócio-construtivismo). Atendemos crianças a partir de 3 meses e prestamos serviço para famílias de classe média alta. São 40 crianças no total. É possível escolher períodos de 4, 6, 8, 9 ou 12 horas.
A oferta de comida congelada, de babá, lavagem de uniforme e corte de cabelo foram demandas dos pais? Como foi incorporar esses serviços e como eles funcionam?
Temos à disposição mudas de roupa para todas as variações climáticas. A ideia era liberar a criança para todas as atividades, sem a preocupação se ela teria ou não roupa para ser trocada, e liberar a mãe da obrigação de arrumar as mochilas para serem levadas todos os dias. Aqui não são lavadas roupas que vêm de casa. A partir dos 3 anos, os alunos permanecem com os uniformes com que vieram de casa. A oferta de sopas e outras comidinhas para serem levadas é uma solicitação dos pais. Sem babá ou empregada, eles preferiam um alimento balanceado aos processados, industrializados.
E as babás, como funciona o serviço?
Não temos e não recomendamos babá para nenhuma família. As nossas professoras, formadas em pedagogia, se estão com agenda livre se colocam à disposição para ficar com as crianças, caso os pais precisem sair à noite ou no fim de semana. As crianças ficam bem olhadas, com quem já estão acostumadas, e os pais, tranquilos. Sobre o corte de cabelo, como aos sábados os salões de São Paulo são muito requisitados, os pais sugeriram o serviço para evitar de levar as crianças em um dia em que poderiam estar com elas em ambientes mais adequados.<EM>
Enquanto psicóloga, como você analisa essa necessidade cada vez mais constante de ter na escola um complemento às funções de pai e, principalmente, de mãe?
Os pais de hoje não podem mais contar com a rede de sustentação de anos atrás. Hoje, os avós não estão mais tão disponíveis, pois todos têm os próprios compromissos sociais. Entre deixar a criança em casa com uma babá, nem sempre capacitada, e deixá-la na escola, eles optam pela escola. O mesmo se dá com a alimentação. Entre preparar alimentos menos saudáveis ou comprar comida pronta, mil vezes oferecer um alimento preparado com orientação de nutricionista especializada. Porque recusar o apoio das professoras quando os pais precisam sair? O casal tem que abdicar da vida a dois porque não tem com quem deixar a criança enquanto sai para jantar? Quais as opções? Constranger familiares para ficar com os filhos, deixá-los aos cuidados de estranhos?
Como você interpreta, então, as reações negativas nas redes sociais a esse novo modelo oferecido pela Ponto Omega? Qual a sua opinião?
As pessoas que criticam não sabem do que estão falando. Aliás, escola nunca foi prioridade no Brasil. Em todos os países de primeiro mundo as crianças ficam na escola o dia todo, aprendendo, e muito! No Brasil, as pessoas estão atrasadas e acham que é melhor deixar a criança no computador, em casa, muitas vezes sozinha e sem ter o que fazer, do que deixá-la na escola. Quanta hipocrisia! Por isso estamos como estamos e onde estamos, andando para trás! Deixar crianças aos cuidados de alguém, menos preparado para lidar com criança, como motoristas e/ ou babás, enquanto eles trabalham ou saem é a melhor opção? O que fazemos não é terceirização da educação! Os pais que nos procuram sabem que não estão terceirizando afeto, mas serviços. Eles querem e buscam o melhor para os filhos e, aqui, no Ponto Omega, eles sabem que podem contar conosco e encontrar tudo isso.
Facilidades oferecidas pela instituição de ensino repercutiram nas
redes sociais e dividaram opiniões; veja o que disseram alguns usuários do
Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário