Em termos de prioridade
Manoel Hygino
Recebo a mensagem
com a lição de Pitágoras: “Educai as crianças para evitardes punir os adultos”.
O ensinamento atravessou séculos, muitos, mas chefes de Estado e de governos
não aprenderam. Não lhes era conveniente.
Não tão longe no
tempo, o antropólogo Darcy Ribeiro advertiu, em 1982, quando visitou nossa
terra natal, Montes Claros, após exílio: “Se os governadores não construírem
escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”.
Assim, é; assim tem
sido; assim será, se não houver mudança na definição de rumos na administração
pública. O premier Ben Gurion, de Israel, há décadas, ensinava: “Governar é
definir prioridades”. No caso do Brasil, em todas as camadas da população, há
um consenso: educação, saúde e segurança pública, primeiramente. Sem elas, não
se conseguirá uma sociedade tranquila, saudável e produtiva.
Sem embargo, o
dinheiro é curto como o cobertor dos pobres. É incapaz de proteger os pés e a
cabeça, a um só tempo. Tudo leva ao sofrimento, sobretudo nas noites de frio,
como as de julho deste ano, em que, mais uma vez, moradores de rua perderam a
vida por força da hipotermia.
Mas unidades
escolares, em cidades brasileiras, estão sendo depredadas por vândalos, que no
fundo são criminosos. Faltam recursos para proteção dos prédios, seus móveis,
seus equipamentos, os próprios professores e funcionários são agredidos. Um
quadro doloroso sob todos os aspectos, mas a que não se dá a imprescindível
atenção, dadas a extensão e complexidade dos problemas, e à falta de recursos,
pelos menos para estes itens.
No Rio de Janeiro,
em que a população enfrenta a criminalidade permanente, os problemas serão
resolvidos. Não arrefece o interesse do turista diante da sucessão de assaltos
nas matas da Tijuca ou nas belas praias de Copacabana. Se o estrangeiro perde a
vida, como o argentino assassinado por um grupo de rapazes, são percalços da
sorte. Ou de sua falta.
Escolas não
faltarão. Tanto é verdade que prefeito do Rio assinou acordo com a Liga
Independente das Escolas... de Samba. Graças a isso, assegurou-se, desde já
repasse de R$ 13 milhões para as agremiações cariocas. Cada uma das treze
escolas receberá R$ 1 milhão em cinco parcelas até novembro. É metade do que
receberam neste ano, mas enfim... escola não pode parar. Agora se apela ao
governo federal e ao patrocínio do empresariado, que patrioticamente darão sua
contribuição, espera-se.
Diante da inabalável
convicção, o presidente da Liga mencionada, Jorge Luiz, foi ao presidente
Temer, para apresentar-lhe a solicitação de mais R$ 13 milhões, necessários às
escolas no ano que vem. Conforme disse, o chefe do Executivo nacional teria
garantido a participação, o que indignou aqueles que se contrapuseram ao
aumento dos impostos sobre combustíveis para fechamento das contas públicas. Sá
Leitão, novo ministro da Cultura, confirmou que o presidente lhe pediu deferir
a demanda. Educação em primeiro lugar. E ela começa na escola.
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