O julgamento da decisão do TSE
Manoel Hygino
Milhões de
brasileiros terão permanecido diante das câmeras por muitas horas para
acompanhar, em vivo e em cores, como dizem os irmãos lusos, o extenso,
acalorado e, às vezes, até cansativo julgamento no Tribunal Superior Eleitoral
sobre a anulação da chapa Dilma-Temer.
Enfim, tratava-se de
problema de dimensões nacionais e os motoristas de táxis e carros particulares
mantiveram-se ligados no que chegava de Brasília pelo rádio.
O brasileiro, de
todas as condições sociais, que sabe ler, ouvir e julgar, sentiu-se no dever de
conhecer os detalhes. Investiu-se realmente no papel de cidadão, aquele que
assume grave responsabilidade na fiscalização do exercício da função pública.
O ventilador
poderoso atirou detritos por todos os lados no país, anos, teve trabalho, mas
cumpriu o que dele se esperava. O cidadão perfeitamente percebeu que havia
muito mais de podre no Brasil do que no reino da Dinamarca, como se referiu
Shakespeare, no “Hamlet”.
O brasileiro queria,
e quer, desvendar o que havia, e há, no âmbito dos males causados à nação por
organizações criminosas, até mesmo partidos (se o caso), que resultaram na
calamidade que chegou às contas e bens públicos e a todos os lares. Se muito já
se esclarecera, se muitos fatos se revelaram, – mesmo que não sobrevindo a
indispensável sanção – é imprescindível que dúvidas não pairem.
Ao cidadão, que
mantém a nação, pouco ou nada interessa distinguir se o problema fora de
natureza econômica, jurídica ou política; o importante é punir a gatunagem,
condenando seus autores com provas materiais ou testemunhais.
O julgamento do TSE
foi válido, não se discute, mas não correspondeu integralmente ao esperado. As
lições de ciência jurídica, fartas e profundas, serviram para argumentar. O
voto de desempate do ministro Gilmar Mendes encontrou claras motivações,
alegada a necessidade de estabilidade política em hora ainda lúgubre da vida
nacional.
Melhor seria deixar
como estava? O ministro-presidente do TSE admitiu como o Américo Pisca- Pisca
“: deixemo-nos de reforma. Fique tudo como está, que está muito bem”, da fábula
de Monteiro Lobato, autor que possivelmente não referendasse o voto.
O presidente do
Tribunal foi peremptório, em sua declaração final: “Não me venham dar lição de
moral. Combate à corrupção eu também quero”.
A decisão do
Tribunal pode não ser a que prevalecerá, em última análise. Há dentre outros
fatos, contundentes suspeitas sobre a conduta de auxiliares do presidente da
República. Esta é uma semana de ansiedade.
Cabe, todavia,
continuar a luta, sabedor o país da posição de Gilmar: a corte eleitoral não é
espaço para solucionar crise política. Tanto que as quase 30 horas de reunião
do TSE apenas cumpriram o rito. Era como dizia o professor Afonso Lamounier,
que trabalhou a CEMIG: “tudo combinado, nada resolvido”.
No entanto, as
águas, com toda sua sujeira, continuarão rolando. O mau cheiro se sente até
pelo rádio, jornais e televisão. O Brasil seguirá acompanhando a sujeira, maior
que a do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, tão dolorosamente
marcando ainda a vida do país.

Nenhum comentário:
Postar um comentário