Trump e os latinos
Manoel Hygino
As controvertidas ou
polêmicas posições assumidas – e prometidas em campanha eleitoral – pelo
presidente Trump suscitam naturais discussões em todo o mundo, especialmente
nas Américas, porque, afinal, os Estados Unidos nelas se localizam. Ademais, o
chamado Colosso do Norte tem passado por transformações expressivas com relação
aos países do Sul – não é o mesmo de décadas atrás.
Sônia Torres,
estudiosa do tema, autora de “America Ibrida”, publicada na Itália, dentre
outros trabalhos de interesse no gênero, foi aqui comentada, há poucos anos.
“Qual o significado e as implicações da crescente “hispanização” de um país
tradicionalmente associado à cultura branca, anglo- saxônica e protestante, e à
língua inglesa? Pergunta Liana Strozenberg?
Evidentemente, a
“hispanização” não se cingirá aos aspectos culturais e a realidade já o prova,
de maneira inequívoca. No entanto, o presidente republicano não se intimidou ou
se intimida, mantendo posições inabaláveis, a despeito da oposição que já
enfrenta internamente.
Torres lembra que,
pela primeira vez na história dos EUA, um ocupante da Casa Branca deveu, em
grande medida, sua vitória, no século XX, ao voto hispânico, quando 3,5 milhões
de latinos ou hispânicos, votaram na chapa Bill Clinton/Al Gore, em novembro de
1996. Essa presença deverá ser maior no século XXI, quer queria ou não Trump,
com toda sua jactância ou arrogância.
Verdadeiramente
muito se esquece. Raciocino com Sônia Torres em uma dissertação, quando
registra que vasta parte do território hoje norte-americano foi povoada por
hispânicos, muito antes de ocupada pelos colonizadores franceses e ingleses.
O que hoje se denomina
Sudoeste dos EUA foi, originalmente, território colonizado pelos espanhóis,
tornando-se México depois da independência, em 1821. Em 1846, os EUA, com sua
ideologia expansionista, “inventaram” uma guerra com o México, que se
encontrava bastante enfraquecido depois de sua independência, ainda em fase de
reconstrução nacional. Em 1848, com o controverso Tratado de Guadalupe-Hidalgo,
esse grande quinhão passou a ser “americano”, correspondente presentemente ao
Novo México, Arizona, Califórnia, Nevada, Utah, metade do Colorado e parte do
Texas.
O hispanismo é forte
no Sudeste dos Estados Unidos. Prova é que um “anglo” dificilmente sobreviverá
ali, se não souber falar ao menos o espanhol básico, nem que seja para
comunicar-se com as classes “subalternas”.
Contrariamente à
ideia de fronteira, como limite entre dois países. Admite-se, uma possível
parcela de americanos e mexicanos, que ela é um local de intersecção de
realidades múltiplas, um espaço de solo comum compartilhado pela América do
Norte e América Latina.
Não só. Em inúmeras
cidades não fronteiriças, como Los Angeles, Phoenix, Albuquerque, Santa Fé,
Pueblo, Santo Antonio, Austin e Houston, a presença mexicana é notória. Em San
Antonio, décima cidade mais populosa dos Estados Unidos, há mais tejanos do que
anglos, como se autodenominam. Mexer nisso é como mexer em caixa de
marimbondos.
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