China liberta
Prêmio Nobel da Paz Liu Xiaobo, vítima de câncer terminal
AFP
Foto de arquivo da
família tirada em 2005 mostra Liu Xiaobo (à esquerda) e o irmão, Liu Xiaoxuan,
em Guangzhou, sul da China
O Prêmio Nobel
da Paz chinês Liu Xiaobo, símbolo da luta pela democracia em seu país, deixou a
prisão após ter sido diagnosticado no mês passado com um câncer de fígado em
fase terminal, anunciou nesta segunda-feira o advogado do ativista à AFP.
A doença foi
diagnosticada em 23 de maio e o intelectual dissidente, encarcerado há oito
anos, foi colocado poucos dias depois em liberdade condicional, de acordo com o
advogado Mo Shaoping.
"Está sendo
tratado em um hospital de Shenyang (província de Liaoning, nordeste). Não tem
nenhum plano especial. Está apenas recebendo tratamento por sua doença",
informou o advogado.
Liu Xiaobo,
atualmente com 61 anos, professor, intelectual e dissidente, cumpria desde 2009
uma pena de 11 anos de prisão por "subversão", depois de ter sido um
dos autores da Carta 08, um texto que defendia a democracia na China.
Ele ainda tinha três
anos para cumprir de sua condenação.
O dissidente venceu
o Nobel da Paz em 2010, quando já estava detido. Por sua ausência, o prêmio foi
entregue de forma simbólica em 10 de dezembro do mesmo ano em Oslo. O ativista
foi representado por uma cadeira vazia durante a cerimônia.
Único Nobel da Paz
na prisão no mundo, Liu Xiaobo se tornou um incômodo para o regime comunista.
Washington e a União Europeia, assim como muitos países ocidentais, exigem sua
libertação em uma ampla mobilização internacional.
A atribuição do
Prêmio Nobel provocou indignação na China, que congelou as relações de alto
nível com a Noruega, o que afetou as exportações de salmão norueguês.
Pequim classificou Liu Xiaobo de "criminoso".
"Incondicional"
Após o anúncio de
sua saída da prisão, seus partidários expressaram preocupação com sua saúde,
questionando o tratamento dado por Pequim e exigindo a libertação
"incondicional".
"Liu Xiaobo foi
diagnosticado com uma doença grave na prisão, onde ele nunca deveria ter
estado", reagiu à AFP Patrick Poon, pesquisador da ONG Anistia
Internacional.
"As autoridades
chinesas devem garantir imediatamente que Liu Xiaobo receba tratamento médico
adequado, com um acesso efetivo sua família", acrescentou Poon, que
pediu uma libertação "imediata e sem condições".
Su Yutong,
jornalista e ativista chinesa exilada na Alemanha, declarou estar
"extremamente chocada e entristecida" com o destino de seu amigo.
"As autoridades devem deixá-lo partir para o exterior para receber um
tratamento adequado", pediu em uma mensagem enviada à AFP.
"Não se sabe se
ele foi submetido na prisão a tortura ou tratamento desumano, mas (...) ele não
podia escrever, nem falar, nem exercer a sua liberdade de pensamento. O que,
como um intelectual, deve ter sido a pior tortura", considerou.
Destino da esposa
Além disso, o
destino da esposa de Liu Xiaobo, Liu Xia, permanece um mistério: de acordo com
Patrick Poon, ela permanecia sob prisão domiciliar nesta segunda-feira.
Embora não seja alvo
de qualquer acusação formal, Liu, detida em sua casa em Pequim desde 2010, não
tem acesso à internet, não tem permissão para receber visitas em sua casa e
raramente pode falar por telefone com seus familiares.
A AFP não conseguiu
entrar em contato com Liu Xia nesta segunda-feira.
Liu Xiaobo, então
professor da Universidade Normal de Pequim, participou em 1989 do movimento
pró-democracia da Praça Tiananmen (Paz Celestial), iniciado pelos estudantes.
Preso após a repressão do movimento, o opositor passou um ano e meio na prisão,
sem nunca ter sido condenado.
Enviado para um
campo de reeducação "pelo trabalho" entre 1996 e 1999 e expulso da
universidade, tornou-se um dos líderes do centro independente Pen Chine, um
grupo de escritores.
"Num momento em
que a China quer um maior papel internacional é conveniente que demonstre
humanidade e compaixão por um homem que nunca cometeu um crime, mas que tem
dedicado sua vida à literatura e à liberdade de expressão", declarou nesta
segunda-feira o Pen Hong Kong, que também pediu sua libertação
"incondicional".
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