Dos cofres
públicos para o ralo: dinheiro ilícito poderia garantir melhor atendimento à
população
Pedro Ferreira
Os R$ 3,08 bilhões
em propina paga a políticos por dois dos maiores conglomerados empresariais do
Brasil e do mundo, a JBS e a Odebrecht, cujos executivos e ex-executivos
fizeram delações na Operação “Lava Jato”, dariam para construir a Linha 3
subterrânea do metrô de BH, ligando a Estação Lagoinha, no Centro, à Savassi,
na Região Centro-Sul, e ainda sobraria dinheiro. Também resolveria pela metade
o déficit habitacional de BH, que é de 56,4 mil moradias. A propina garantiria
27,3 mil tetos.
De acordo com
delações premiadas, os valores foram pagos a políticos em troca de vantagens
fiscais, aprovação de medidas provisórias que favoreciam as empresas, entre
outros interesses.
Os donos da JBS, os
irmãos Joesley e Wesley Batista, disseram ter entregue R$ 1,4 bilhão a 1.829
políticos de 28 partidos, em 214 repasses, conforme consta em 42 anexos
apresentados pelos colaboradores. Já as delações da Odebrecht dão conta R$ 1,68
bilhão para 26 partidos.
Os valores não incluem eventuais propinas de outras empresas investigadas, como a Construtora UTC, Andrade Gutierrez e OAS. Algumas mantinham setores para cuidar de vantagens indevidas, os chamados “Departamentos de Propinas”.
Os valores não incluem eventuais propinas de outras empresas investigadas, como a Construtora UTC, Andrade Gutierrez e OAS. Algumas mantinham setores para cuidar de vantagens indevidas, os chamados “Departamentos de Propinas”.
A Linha 3 do metrô é
orçada em R$ 2,4 bilhões (R$ 490 milhões/km), segundo a Secretaria de Estado de
Transportes e Obras Públicas (Setop). O valor inclui cinco estações nos 4,9
quilômetros do ramal, a Lagoinha, Praça Sete, Palácio das Artes, Praça da
Liberdade e Savassi.
Os R$ 3,08 bilhões
garantiriam a reforma e ampliação dos 28,2 quilômetros de metrô de superfície
já existentes, a Linha 1 (Eldorado/Vilarinho), orçadas em R$ 2,9 bilhões (R$
100 milhões para cada quilômetro). A Linha 1 ganharia mais 1,5 quilômetro, até
o Novo Eldorado, em Contagem, Grande BH.
Se a prioridade for
o Barreiro, poderiam investir na Linha 2 (Barreiro/Nova Suíça). Os 10,5
quilômetros de metrô de superfície previstos sairiam por R$ 1,6 bilhão (R$ 133
milhões/km).
BR-381
Os R$ 3,08 bilhões são nove vezes o orçamento de R$ 320 milhões disponível neste ano para obras de duplicação de 308 quilômetros da BR-381, da capital a Governador Valadares, Vale do Rio Doce. Os trabalhos começaram em 2014 e andam a passos lentos, sem previsão de término.
Corrupção corrói recursos da saúde, educação e habitação
Os R$ 3,08 bilhões são nove vezes o orçamento de R$ 320 milhões disponível neste ano para obras de duplicação de 308 quilômetros da BR-381, da capital a Governador Valadares, Vale do Rio Doce. Os trabalhos começaram em 2014 e andam a passos lentos, sem previsão de término.
Corrupção corrói recursos da saúde, educação e habitação
Cálculos da
Associação Contas Abertas, ONG que busca estimular a participação da sociedade
no debate sobre as contas públicas, revelam que os R$ 3,08 bilhões dariam ainda
para construir 1.540 Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) de porte II, com
capacidade para atender 250 pacientes/dia (R$ 2 milhões/unidade), e outras
2.200 de porte I, para até 150 pacientes/dia (R$ 1,4 milhão/unidade).
Dariam ainda 870
escolas com capacidade de 433 alunos por turno (R$ 3.537.430,84 cada unidade),
segundo o secretário-geral da instituição, Gil Castelo Branco.
Tomando como base a
Escola Estadual Romero de Carvalho, em construção em Pedro Leopoldo, Grande BH,
o montante da propina daria para construir 628 unidades de ensino semelhantes
(R$ 4,9 milhões/unidade). As unidades teriam dois prédios perpendiculares, com
três pavimentos no bloco um e dois pavimentos no bloco 2, composta por dez
salas de aulas, dois laboratórios de ciências, sala de línguas, sala de
informática, biblioteca, salas para a diretoria, supervisão e professores;
banheiros/vestiários para alunos, vestiários para funcionários, cozinha,
despensa, área de recreio, para circulação e quadra poliesportiva, todos
cobertos. O dinheiro seria suficiente para levantar 1.621 creches para 160
crianças cada (R$ 1,9 milhão/unidade).
O dinheiro
garantiria teto para R$ 27,3 mil famílias. Daria para construir 90 conjuntos
habitacionais (R$ 34,13 milhões/cada), com apartamentos de dois ou três
quartos. O valor tem como base o conjunto habitacional em construção pelo PAC
Ferrugem, em Contagem, Grande BH. São 19 prédios de quatro pavimentos e 16
apartamentos cada, para atender 304 famílias.
“A corrupção é um crime contra cada um de nós. Na ótica do que a corrupção subtrai dos recursos da saúde, por exemplo, pode-se afirmar que a corrupção mata”
Gil Castelo Branco
Secretário-geral da Associação Contas Abertas
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