O espectro bolivariano
Manoel Hygino
Há sempre renovado
esforço de determinadas pessoas e grupos para piorar a situação do Brasil e dos
brasileiros, embora o propósito se mantenha difícil, dado o quadro em que já
nos encontramos. A despeito disso, dos protestos dos que querem a baderna por todos
os meios, os heróis dessa empreitada antipatriótica insistem. Foi o que se viu,
no último dia 28, quando se quis paralisar o que funciona.
Suponho, todavia,
que não conseguiam fazer com que atinjamos o caos a que chegou a Venezuela, de
onde procedem diariamente dramáticas notícias (não evidentemente comparáveis as
do Oriente Médio, como as da terrível tragédia síria).
Há anos, a Venezuela
vive à beira da ruptura institucional. Assumiu o novo nome de República
Bolivariana da Venezuela e mexeu com as instituições do Estado, após aprovação
da nova Constituição, promulgada em dezembro de 1999. Eliminou-se o Senado
Nacional e se instituiu o Parlamento unicameral, ampliaram-se os poderes do
presidente, admitiu-se a reeleição, consagrou-se o monopólio do petróleo e
reduziu-se a jornada de trabalho. Nada melhorou. Antes pelo contrário.
Ao invés de
beneficiar o povo, apertou-se o cerco e o cinto. Com a venda externa de
petróleo, montou-se um arsenal de guerra contra o inimigo do Norte, os Estados
Unidos, seu maior consumidor. De 2005 a 2010, adquiriram-se da Rússia 4 bilhões
de dólares em armamento, enquanto se dava ênfase ao envio do seu principal
produto para a China.
Paulatinamente, o
perfil de Chávez se foi deteriorando, aproximando de outros caudilhos venezuelanos.
A situação econômica se agravava, silenciava a imprensa, crescia a inflação,
diminuía a popularidade, começava a faltar tudo: medicamentos, alimentos,
produtos de necessidade, até papel higiênico. Os protestos nas ruas foram, e
são, combatidos pela força (29 pessoas já morreram), com os militares
protegidos por altos salários e cargos.
A morte de Chávez,
vítima de câncer que não quis ter sido tratado no Brasil, correspondeu à
ascensão de Nicolás Maduro, sem competência para dirigir o país.
No ano passado, a
Semana Santa foi considerada feriado, a fim de se economizar água e energia
elétrica. A população foi “chamada” a seguir o amável convite. Ao sexo
feminino, sugeriu-se redução no uso de secador de cabelo ou sua utilização
apenas em casos especiais. O racionamento elétrico em hotéis e shoppings subiu
para nove horas diárias.
Na semana passada,
Maduro anunciou aumento de 60% no salário mínimo do trabalhador, que também
recebe um bônus de alimentação. O salário se elevou a 65.021 bolívares, o
adicional a 135 mil bolívares, não influindo nas férias ou gratificação
natalina.
Observe-se: é o
terceiro aumento salarial em 2017, este último no Dia do Trabalho ou do
Trabalhador. O que parece bondade não o é tanto, se se considerar a inflação
prevista de 720%, a mais alta do mundo.
Não adianta
reajuste, pois não existem produtos básicos. Maduro assegura: “Vamos ganhar
esta guerra contra a oligarquia”. E milhares de hermanos escapam à fome e ao
desemprego pela fronteira em Roraima.

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