Desfile ameaçador na Coreia
Manoel Hygino
Diz a lenda que a
atual península coreana foi dividida em três reinos no século anterior à Era
Cristã. Vê-se que se teria de ocupar muito espaço para chegar a nosso tempo. O
território, nos séculos seguintes, foi disputado por chineses, mongóis,
japoneses e russos. Em 1910, o Japão anexou a região e tentou eliminar a língua
e cultura coreanas. Durante a II Grande Guerra, milhares de cidadãos foram
obrigados a trabalhos forçados.
A partir da rendição
japonesa, após a explosão das bombas atômicas de Tio Sam, a península coreana
foi dividida em duas zonas: a de ocupação norte-americana e a soviética.
Criaram-se a Coreia do Sul e a do Norte, ambas reivindicando direito sobre todo
o território. Oficializa-se o comunismo na Coreia do Norte, sob Kim II-Sung.
Em 1950,
norte-americanos invadem o lado não comunista. A ONU envia tropas, com
predominância de contingentes dos EUA e ocupa a Coreia do Norte. A China adere
à luta e conquista Seul, capital sul-coreana. Tio Sam enfrenta a situação e
expulsa os chineses, de volta ao Paralelo 38, que separa as Coreias. Mais de 5
milhões de pessoas morrem em três anos de conflito, dos quais 2 milhões de
civis. Em 1953, há uma trégua com definição de uma zona desmilitarizada entre
os litigantes.
Paz? Muito longe. A
Coreia do Norte é reerguida com apoio da União Soviética e da China,
caracterizando-se o regime pelo culto ao ditador Kim-II-Sung. Em 1990, a
Agência Internacional de Energia Atômica vigia a situação: os norte-coreanos
estariam desenvolvendo um programa nuclear militar.
Assim tem sido,
desde então. E já somam quase 30 anos de beligerância entre as Coreias e de
intranquilidade para o mundo, que não deseja mais um país no ameaçador clube
nuclear. Com a permanente demonstração de forças em Pyongyang, capital do país
do Norte, o atual líder, Kim Jong-Un, neto do fundador da dinastia, o
mencionado Kim-II-Sung, deu uma altíssima demonstração de poder militar, neste
abril, em resposta ao presidente Trump.
Quem vê as fotos e
as reportagens televisivas, em que aparece II- Sung, desconfia de sua saúde
mental. Não parece um cidadão em pleno uso de suas faculdades. Assim apareceu
nos desfiles pelas ruas de Pyongyang, no Dia do Sol, o de nascimento do criador
da dinastia.
Após salva de tiros
de 21 canhões, dezenas de milhares de soldados de Infantaria, Marinha e
Aviação, desfilaram com o passo de ganso, virando a cabeça na direção do balcão
onde o líder se achava, em terno preto. Destacamentos carregavam rifles ou
lança-granadas, alguns com óculos de visão noturna e rosto pintado. Em seguida,
vieram tanques e armas muito especiais: 56 mísseis de 10 tipos distintos,
transportados por reboques e caminhões. Para o ditador e seu regime, um dia de
festas. Para o resto do mundo, de preocupação.
O país asiático já
realizou cinco testes nucelares recentemente e pretende desenvolver um míssil
internacional, capaz de atingir e destruir os Estados Unidos. O presidente dos
EUA, Donald Trump, pela primeira vez, manifesta sua disposição de conversar com
o líder norte-vietnamita, num encontro inédito. A iniciativa se resume a
palavras – e não mais que palavras.

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