Reflexões sobre errar e pedir desculpas
Simone Demolinari
Diz o ditado: “quem bate esquece, quem apanha, não”. E a coisa é mais ou
menos por aí. A ferida sentida em quem apanhou nunca será percebida da mesma
forma por quem a provocou. Nem sempre um pedido de desculpa ressarce o dano.
Uma quebra de confiança por exemplo, é uma mácula que dificilmente é apagada na
sua totalidade.
A história do “vidro quebrado não se cola” é aplicável em casos mais graves.
Existem erros fatais que determinam o fim de relações promissoras, tanto no
campo do amor, quanto da amizade ou profissional. Há condutas que são tão
destrutivas que o pedido de desculpa fica insuficiente. É como atirar uma pedra
contra uma vidraça e trazer um durex para restaurar o estilhaço.
Aqueles que pretendem dar vida longa e saudável às relações precisam
avaliar os impactos da ação antes de atuar de maneira inconsequente. É
importante ressaltar que os prejuízos emocionais são sempre os mais difíceis de
serem pagos, visto que, nesse caso, desculpar não depende só de uma pessoa, é
preciso que o causador do dano tenha o “comportamento dos arrependidos”, o que
nem sempre acontece.
Há pessoas que demonstram-se mais preocupadas consigo do que com quem
lesou. Querem ser desculpadas a qualquer custo e julgam de “egoísta” ou
“sensível demais” aquele que está com dificuldade de perdoar. Por outro lado, a
vítima se martiriza e acaba desculpando, tanto pela pressão quanto pela culpa
que sente.
Mesmo com todo o contexto confuso, é preciso tratar os fatos no campo
real, e não no ideal. A idealização sabota a realidade. Indivíduos que mesmo
sendo advertidos continuam cometendo erros de igual teor, já não estão mais
“errando” e sim demonstrando sua total despreocupação com quem está ferindo.
A reincidência revela um padrão comportamental. Há um ditado popular que
diz: “quem errou a primeira vez, não significa que irá errar a segunda. Mas
quem errou a segunda, provavelmente irá errar a terceira vez”. Pessoas com
condutas repetidas dificilmente mudarão seu comportamento frente a um pedido de
desculpa.
Não devemos tratar
as falhas alheias nem com tanto rigor nem com tanta misericórdia. Há um ponto
de equilíbrio onde a maturidade e o amor próprio devem encontrar seu lugar. Um
bom palpite é observar o comportamento de quem se diz arrependido. Há aqueles
que se sentem verdadeiramente arrependidos, são bem intencionados e fazem de
tudo para não repetir a postura que magoa – a maioria das vezes conseguem. Porém,
há quem se arrepende por oportunismo, um arrependimento estratégico que visa
não perder confortos ou regalias. Estes costumam teatralizar um remorso que não
sentem, às vezes choram ou até se humilham em busca do perdão, mas não mudam,
pois no fundo são prepotentes e acreditam que merecem ser desculpados de todos
os erros.
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