Francisco vai aos coptas
Manoel Hygino
Novos atentados
contra cristãos coptas no Egito em abril, o mês da Páscoa. Enquanto a
comunidade orava a Jesus por sua paixão e morte, em Jerusalém, dois séculos
antes, o país norte – africano sentia os efeitos da intolerância e fanatismo.
Até o século V, a
Igreja de Alexandria, a que pertencem os coptas, representou no mundo cristão
um papel pouco inferior à de Roma, o que se pode medir pela importância de
nomes como Orígenes, Anastácio e Cirilo.
A história copta é
um belo campo para estudo, até porque sua língua, falada pelos antigos
egípcios, é utilizada até hoje na sua Igreja, nos cantos religiosos e nas
orações.
Sedentários,
econômicos e muito prolíficos, monogâmicos, os coptas habitam aldeias inteiras
do baixo Egito e sobretudo no Alto Egito. Recusando submeter-se ao concílio de
Calcedônia, em 451, sobre o problema da união da natureza divina e humana em
Cristo, separou-se da Igreja de Roma, mas continuou de mãos dadas.
No primeiro
atentado, neste abril, em uma igreja em Tawta, a 120 quilômetros do Cairo, 27
pessoas morreram e 78 ficaram feridas. A explosão foi nas primeiras filas,
perto dos altares, durante a missa. Imagens divulgadas por rede privada de
televisão mostraram o chão e as paredes brancas do templo cobertas de sangue,
assim como os bancos de madeira destruídos.
O ato criminoso do
grupo terrorista Estado Islâmico se dá meses após seu braço sírio convocar o
ataque aos “infiéis, ou apóstatas, no Egito e em toda parte”, forma de
referir-se à comunidade copta.
Antes, outro
atentado na igreja de Alexandria, deixou o saldo de 17 mortes e 49 feridos. Um
indivíduo com um cinturão de explosivos detonou a carga, ao ser impedido de
permanecer no templo de São Marcos. O líder copta, Papa Teodoro II, que
participara das celebrações de Domingo de Ramos, abandonara a Igreja pouco
antes da detonação.
O duplo crime
adverte para o que poderia acontecer, considerando que Francisco prometeu
visitar os coptas do Egito, hoje e amanhã. Ao conhecer a tragédia, o pontífice
enviou ao líder religioso do outro lado do Mediterrâneo, uma mensagem: “Ao meu
querido irmão, sua Santidade, o Papa Teodoro II, à Igreja copta e a toda a
nação egípcia, expresso meu profundo pesar”.
Enquanto o Oriente
Médio crepita diante da troca de ameaças, desencadeada principalmente a partir
do ataque dos mísseis de Trump à Síria, Francisco não se intimida. Da sacada do
Palácio Pontifical na Praça São Pedro, manteve a decisão de, no final deste mês,
visitar Teodoro, no Egito. Participará certamente das mais antigas cerimônias e
ritos primitivos do cristianismo.
O velho idioma copta
não é mais falado como nos velhos tempos, desaparecido há mais de duzentos
anos, suplantado pelo árabe. Que mundo novo aparecerá naquele pedaço do
planeta, se eclodirem novas guerras no conturbado território? O EI não perdoa,
nem admite derrota. Enquanto isso, os cristãos são simplesmente liquidados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário