Nuvens negras nos céus
Manoel Hygino
A foto que circulou
pelo mundo na última terça-feira, 4 de abril, comoveu e consternou. Nela, o
comerciante Abdel Hameed al-Youssef, de 29 anos, apareceu, abraçado aos filhos
gêmeos, de nove meses, a mulher e outros parentes. Todos foram vítimas do
ataque químico que resultou na morte de 86 pessoas inicialmente, e ferindo mais
de 550, no noroeste da Síria.
As crianças, do sexo
masculino, são mostradas com cabelos penteados, como se dormissem. Na frente
dos presentes, o pai repetia: “Diga tchau, bebê, diga tchau”. Ele se achava com
os filhos quando ocorreu o ataque das forças governamentais. Para obter
socorro, procurou os demais parentes – dois irmãos, sobrinhos, amigos e
vizinhos. Ao voltar, encontrou os gêmeos mortos, em consequência da brutalidade
da guerra e da desumanidade das autoridades.
O ataque utilizou
gás sarin, como confirmado por especialistas. Autoridades turcas acusam o
regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, pelo bombardeio com a substância
tóxica, o que mais revoltou o mundo tido por civilizado ou como tal
classificado. A crueldade da ação bélica foi ignomínia, que – como
suficientemente sabido – é apenas uma das marcas das ações do ditador Assad.
Seis anos de guerra
e muitos milhares de vítimas, inclusive civis, crianças, mulheres e idosos, e
de componentes de equipes médicas e de assistência aos feridos, demonstram que
o regime sírio, apoiado por Moscou, é uma insânia, configurada como verdadeiro
genocídio.
A tirania de Assad
lança mais lenha à fogueira interminável do Oriente Médio, em que o apoio da
Rússia a Bagdá até certo ponto assusta o Ocidente. Ainda mais quando Moscou se
vê em apuros para conter movimentos internos contra Putin e para tentar
explicar o atentado em São Petersburgo, há poucos dias.
O homem-bomba,
acusado do ataque à velha capital que Pedro, o Grande, construiu sobre os lagos
nórdicos, seria um russo nascido no Quirguistão, fronteiriço ao Cazaquistão. De
seu ato, restaram inicialmente 14 mortos e 49 feridos, numa estação do metrô da
histórica cidade. Simplesmente um atentado terrorista ou parte de um movimento
de sublevação contra Wladimir Putin?
Simultaneamente, a
inesperada decisão do presidente Donald Trump de bombardear território sírio
com mísseis disparados de navios americanos no Mediterrâneo provoca
interrogações. O que significa efetivamente? De Washington, sob Trump, nada
pode surpreender. Mudanças de posição do sucessor de Barack Obama podem
acontecer inopinadamente e assim tem sido nos escassos meses de gestão.
Uma nuvem negra e
ameaçadora cobre extensas regiões do mundo, principalmente naquelas nações que
mais precisariam de paz para cumprir seus projetos de progresso. Uma das
primeiras consequências foi a elevação vertiginosa dos preços de petróleo.
Beneficiará a quem? Quais as consequências que sobrevirão para o mundo
globalizado? Mais uma vez, os pobres pagarão pelos pecadores?

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