O amor supera tudo?
Simone Demolinari
Seria o amor um sentimento ilimitado sujeito a qualquer prova? Muitos
acreditam que sim, seguem convictos de que com amor é possível superar qualquer
obstáculo. Já outros, sobretudo aqueles que carregam consigo experiências
negativas no campo do afetivo, têm lá suas dúvidas.
A estatística sobre as uniões matrimoniais não parece muito otimista.
Segundo dados da pesquisa do IBGE, o Brasil registrou 341,1 mil divórcios em
2014, ante 130,5 mil registros em 2004. Esses números revelam um salto de mais
de 160% em dez anos. Um cenário revelador que deixa explícito que o “felizes
para sempre” não é uma realidade.
É preciso pensar com maturidade sobre isso. Muitas vezes é exigido do
amor uma elasticidade emocional que nem sempre o sentimento é capaz de
suportar. É inegável que quando amamos ganhamos uma energia extra capaz de
enfrentar várias coisas, inclusive aquelas mais audaciosas que considerávamos
impossíveis. Mérito do amor. Contudo, ele sozinho não opera milagres. A prova
disso é que boa parte das relações não terminam por falta do sentimento, e sim
por desgastes.
Explico melhor. Há uma grande queixa sobre a dificuldade de encontrar
pessoas interessantes para se relacionar. Porém, mesmo frente a essa
dificuldade, muitos quando encontram não cuidam com o merecido cuidado da
relação.
Não deixa de ser curioso o fato de uma pessoa temer a perda do par
amoroso ao mesmo tempo que o submete à condutas desgastantes. E isso ocorre com
frequência. Existem pessoas que levam a relação ao nível máximo de exaustão com
ciúmes, cobrança, crítica, egoísmo, frieza, traição, atitudes que são
verdadeiros drenos do amor.
Deixar que a relação sobreviva colocando à prova a resistência do
sentimento pode culminar no fim do amor. Mesmo os laços considerados fortes não
resistem. Seria mais inteligente cuidar e preservar ao invés de testá-lo. Só
porque um aparelho é a prova d’água não devemos deixá-lo submerso por horas. Da
mesma forma é o amor. Se colocarmos o sentimento a toda prova, estamos exigindo
que ele opere em sua capacidade máxima. E isso cansa, enfraquece, debilita. Com
o tempo, a fortaleça fragiliza e não encontra fôlego para reerguer-se.
É preciso ter em mente que o amor é um sentimento finito que precisa ser
retroalimentado. Não é possível mantê-lo de pé quando apenas uma das partes o
sustenta. É preciso que os parceiros caminhem juntos, em via de mão dupla, na
mesma direção. É justamente essa troca emocional que mantém duradouro os laços
afetivos.
Selar uma parceria amorosa com alguém de semelhantes afinidades, tanto
de caráter quanto de estilo de vida, humor, gostos e prazeres, torna o
cotidiano afetivo muito mais rico, divertido e duradouro e por consequência
menos desgastante, entediante e morno.

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