O debate sobre juros e
inflação
José Antônio Bicalho
Quem se interessa por teoria econômica, mesmo não sendo economista, não
pode deixar de acompanhar o interessantíssimo debate que está se desenrolando
no jornal Valor Econômico. A questão central são os juros. E a coisa toda
começou com um texto de André Lara Resende sobre a tese do americano John
Cochrane, da universidade de Stanford, de que, no longo prazo, juro alto
contribui para manter a inflação elevada. Na sequência, o próprio Cochrane foi
entrevistado pelo jornal, e a partir de então uma série de economistas entraram
na discussão, defendendo e rebatendo a tese, em artigos publicados no Valor e
em outros jornais.
Vou resumir grosseiramente o que está sendo discutido só para despertar
o interesse dos leitores dessa coluna. E também para eu poder dar um pequeno
pitaco. Todos os artigos estão abertos no site do Valor também para não
assinantes, com um link na home.
Não há lógica em tirar liquidez do mercado pelo simples fato de não haver
liquidez no mercado
Como disse, a questão central são os juros. Cochrane desafia a máxima de
que juro alto reduz inflação e defende que o efeito é justamente o oposto: a
incerteza quanto ao equilíbrio fiscal gerada pelo juro alto faz a inflação
permanecer alta no longo prazo. Municiados pela tese inovadora, vieram
inicialmente os textos dos economistas críticos do conservadorismo radical do
Banco Central brasileiro, que ainda mantém a mais alta taxa de juro do mundo.
Na sequência vieram artigos em defesa da ortodoxia, justificada pela falta de
solidez fiscal do governo brasileiro. Dizem estes últimos que a tese de
Cochrane foi desenvolvida tomando por objeto de estudo apenas as economias
avançadas da Europa e o combate à crise financeira mundial de 2008 com juro
próximo de zero. Não seria aplicável a uma economia turbulenta e frágil como a
brasileira.
Cito um destes, Armínio Fraga, que publicou em O Globo artigo no qual
afirma que as incertezas e as fragilidades das contas públicas não permitem
abandonar “um certo conservadorismo na prática da política monetária”. Escolhi
citar o de Fraga porque ele reflete o pensamento conservador que domina o atual
governo, com Ilan Goldfajn no BC e Henrique Meirelles na Fazenda. Antes desse
artigo, Fraga publicou outro, também em O Globo, defendendo o arrocho fiscal e
a política monetária contracionista.
Agora o meu pitaco. Conforme já afirmei, considero suicídio manter o
maior juro do mundo no momento que enfrentamos a pior recessão e o maior rombo
fiscal da história. Não há lógica em tirar liquidez do mercado pelo simples
fato de não haver liquidez no mercado. Se temos ainda alguma inflação, ela está
descolada de qualquer impacto dos juros por conta da inanição da economia.
Além disso, os preços estão sob controle. Se a inflação acumulada em 12
meses até janeiro ainda é de 5,35%, o índice de janeiro, de 0,38%, foi o mais
baixo para o mês de toda a série histórica que teve início em 1979. E quando a
inflação de janeiro é projetada para 2017, prevemos uma inflação para este ano
de 4,6%, quase no centro da meta, que é de 4,5%. Mas, como a tendência é de
queda continuada, muito provavelmente a inflação fechará o ano abaixo da meta.
A doença da nossa economia, hoje, não é inflação. É recessão. E o
receituário neste caso é o contrário do que o que vem sendo aplicado. Injeção
de liquidez, corte radical dos juros (da Selic e, principalmente, das taxas na
ponta para empresas e consumidores) e retomada dos investimentos públicos.
O problema é que Temer e sua equipe não farão isso. Então...
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