Riqueza verde das Geraes:
produção de azeite na Serra da Mantiqueira baterá recorde neste ano
Patrícia Santos
Dumont
ÁREA PLANTADA – Estima-se que existam cerca de 1.600 hectares de
oliveiras na região da Mantiqueira
Um dos maiores importadores de azeite do mundo, o Brasil vem
conseguindo
conquistar o mercado interno com a produção nacional. Pioneiros na
fabricação da iguaria no país, os municípios da Serra da Mantiqueira – maioria
em solo mineiro – devem ter safra recorde este ano e produzir a maior quantidade
do óleo vegetal extravirgem da história.
A expectativa é colher 400 toneladas de azeitonas e entregar 40 mil
litros de azeite, quase o dobro da safra passada, mas ainda assim uma pequena
escala, o que impacta diretamente no preço. Comercializados geralmente em
embalagens de 250 ml, os azeites mineiros custam a partir de R$ 40 e só são
encontrados em empórios e lojas especializadas.
Existem no mercado cerca de 20 marcas mineiras de azeite, vendidas no
Estado e em São Paulo
De acordo com o pesquisador Luiz Fernando de Oliveira da Silva,
coordenador do Programa de Olivicultura da Epamig em Maria da Fé (Sul de Minas)
– berço dessa atividade no Estado –, o aumento da produção deve ser gradativo
porque tem relação direta com a maturidade da planta. O desenvolvimento de
tecnologias também ajuda.
“Trabalhamos para solucionar problemas pontuais, criando mudas de melhor
qualidade, variedades adaptadas às nossas condições climáticas e técnicas
corretas de manejo da planta”, enfatiza o pesquisador da empresa governamental
de pesquisa, apostando no aumento exponencial das próximas safras.
As azeitonas são colhidas em fevereiro
e março, quando são produzidos e vendidos os azeites
Diferencial
O foco dos produtores de azeite da Mantiqueira é a qualidade do produto.
“A concorrência acontecerá não pela quantidade produzida, mas pela qualidade do
produto feito aqui”, observa o pesquisador.
Produtor e presidente da Associação dos Olivicultores dos Contrafortes
da Mantiqueira (Assoolive), Carlos Diniz explica que o diferencial do azeite
fabricado na região é o frescor.
A produção em menor escala garante um óleo mais jovem e, portanto, mais
saboroso e rico em propriedades que acentuam o sabor, por exemplo. “Fazemos a
extração de forma rápida e partimos para a comercialização em seguida. O mesmo
não acontece com produtos importados. Essa é a vantagem em relação ao sabor e
aos aromas”, detalha.
A quantidade de azeitona para fabricar azeite depende do clima. Em
média, são dez quilos de fruto para cada litro do óleo. Em Minas estão concentradas
40 das 60 cidades da Serra da Mantiqueira, que se estende ainda por Rio e São
Paulo
Sobra da produção vira cuidado natural com a pele
A produção de azeite na Mantiqueira tem impulsionado a fabricação de
outros derivados do fruto. Em Maria da Fé, no Sul de Minas, os resíduos da
indústria do óleo vegetal e as sementes de azeitona trituradas deram origem ao
ganha-pão da farmacêutica Vânia Gonçalves, que viu no produto abundante na
região um nicho de negócio.
Há cerca de três anos, ela criou a Saboaria Jardim Secreto, onde produz
de forma artesanal sabonetes esfoliantes e hidratantes e aromatizadores de
ambiente. Todo mês, a matéria-prima adquirida sem custos da Epamig dá origem a
uma média de 50 sabonetes de 100 gramas, vendidos a R$ 8 cada unidade. A
farmacêutica já planeja abrir uma loja.
100% NATURAL – Em Maria da Fé, resíduos da fabricação de azeite e da
trituração da semente da azeitona dão origem a sabonetes e aromatizadores de
ambiente
“Na Europa, onde a produção de azeitonas é muito intensa, já se utiliza
esses resíduos para fabricação de cosméticos. Além de antioxidante, o fruto é
rico em vitaminas E e C, ajuda a clarear a pele e a estimula a renovação
celular. Todos os insumos que uso são 100% naturais e não agridem o meio
ambiente”, detalha Vânia, que está patenteando a fórmula.
No próximo dia 24 acontece o 12º Dia de Campo de Olivicultura, no Campo
Experimental da Epamig em Maria da Fé. O evento reunirá pesquisadores,
técnicos, olivicultores e empresários interessados no setor.
TOP DE LINHA - Cor esverdeada e
frescor são características mais marcantes da safra da Mantiqueira
Além disso
A fartura do fruto da oliveira tem sido incremento e tanto na produção
dos chocolates fabricados pela doceira Ana Lúcia Ribeiro Silva,
sócia-proprietária da Chocolate Tentação, em Maria da Fé. Há 15 anos, ela
produz artesanalmente barras de chocolate, ovos de Páscoa, bolos e doces. Há
quatro, descobriu um ingrediente inusitado que tornaria as receitas diferentes
de tudo o que já havia visto: o azeite.
O ingrediente é misturado ao cacau e dá origem a barras maciças, com
sabor acentuado do óleo. “Fui convidada para participar de um festival gastronômico
na cidade e tive que inventar alguma coisa para levar, já que meu prato era
doce. Sabia do uso de óleo de canola para afinar o chocolate, então tive a
ideia de substituí-lo pelo azeite”, conta, relembrando a origem da receita
exótica. A invenção deu tão certo que ela recebe encomendas até de turistas.
As azeitonas, além de darem origem ao tradicional azeite, são
matéria-prima usada para curar queijos e adubar bonsais da planta. O trabalho é
realizado por Marcelo Bonifácio, proprietário da Fazenda Maria da Fé. Desde
2015, quando adquiriu a propriedade, ele fabrica o óleo extravirgem, usado
também nos queijos, e utiliza o resíduo da produção: o bagaço da azeitona vira
composto orgânico para adubação.
Quase todo a produção de azeitonas da Serra da Mantiqueira é voltada
para o processamento de azeites finos, classificados como gourmet; as plantas
se tornam mais produtivas a partir dos quatro anos e atingem o pico da
maturidade entre dez e 12 anos



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