Inveja, cobiça e competição
Simone Demolinari
Apesar de serem sentimentos distintos, não são emocionalmente puros, uma
vez que eles se assemelham e se misturam muito. Contudo, é importante a
avaliação de cada um deles.
– Inveja: entende-se pela inveja a raiva ou frustração pelo sucesso
alheio. Uma espécie de tristeza pela alegria do outro. Um sentimento humano
muito comum, que é também o pecado capital no qual as pessoas mais se
identificam, embora tenham vergonha de admitir que o sentem. Preferem enxergá-lo
no outro.
A inveja não ocorre apenas em relação a objetos e bens materiais. Existe
também a inveja emocional, tão comum quanto a material. Sente-se inveja da
inteligência, da desenvoltura, da ousadia e também das más qualidades,
malandragem, lábia, cara de pau – um paradoxo onde os bons invejam os maus.
A inveja deriva da admiração – quando considero o outro mais
desenvolvido que eu, logo me sinto inferior, portanto, triste pelo fato do
outro possuir o que eu não possuo. Está aí a tristeza pela felicidade alheia.
A inveja pode atingir níveis tão descabidos a ponto de alguém aceitar
perder para o outro perder mais.
Diz uma parábola medieval que um homem ganancioso e outro invejoso
encontraram um rei. O rei lhes disse: “Um de vocês dois pode me pedir alguma
coisa e eu lhe darei, desde que possa dar o dobro ao outro”. O invejoso não
quis ser o primeiro porque ficou com inveja do companheiro que receberia o
dobro, e o ganancioso também não quis porque desejava tudo para ele.
Finalmente, o ganancioso conseguiu com que o invejoso fizesse o pedido
primeiro. Foi aí que invejoso pediu ao rei para lhe furar um dos olhos.
– Cobiça: significa o desejo de ter aquilo que o outro tem sem que isso
lhe cause tristeza. É um sentimento legítimo e que muitas vezes traz estímulo a
quem sente.
O cobiçador e o invejoso têm um comportamento parecido. Ambos admiram e
desejam/imitam o que o outro tem, porém a cobiça não tem a parte mais negativa
da inveja. Talvez seja por isso que muitos se sentem cobiçadores, quando na
verdade não passam de invejosos.
– Competição: é algo bem aceito e estimulado pela sociedade, sobretudo
no campo profissional. Embora tenha sua parcela de vantagem – quase sempre para
o empregador, a competição vai além desse ambiente e se estende para as relações
pessoais. Pessoas competitivas não gostam de perder. Querem ganhar até aquilo
que não é importante. A vitória para eles tem um componente necessário, pois
certificam sua valia. Para o competidor não basta ganhar, é preciso que o outro
perca. Esta característica empobrece as relações, uma vez que o foco está na
disputa e não na parceria.
O curioso é que: inveja, cobiça e competição, apesar de serem
sentimentos indignos, não se manifestam em ambiente hostil. Na maioria das
vezes está presente entre as pessoas que mais amamos, amigos, parceiros
afetivos, família, irmãos.
Investir na própria vida, buscar a evolução pessoal e diminuir a
comparação com o outro são atitudes importantes que atenuam as chances de viver
prisioneiro dessas emoções.
Nenhum comentário:
Postar um comentário