Da Europa no inverno
político
Stefan Salej
As baixas temperaturas deste inverno são ainda mais baixas se levarmos
em consideração os desafios políticos que o velho continente, do qual veio uma
boa parcela da população brasileira, está enfrentando. A confirmação pelo
parlamento britânico da saída do Reino Unido da União Europeia, chamada Brexit,
colocou a última pá de cal nas esperanças tênues de que eles ficariam ainda na
UE. A ilha, que sempre foi soberana e separada do continente, separou-se mais
uma vez, apesar da Escócia, parte do Reino Unido, protestar e dizer que quer
ficar na União Europeia.
Aliás, a aliança rompeu-se com a velha Europa, mas se fortaleceu com o
novo governante dos Estados Unidos, que recebeu como primeiro dirigente de um
país estrangeiro justamente a Primeira Ministra do Reino Unido.
Trump vai visitar a Grã Bretanha sob fortes protestos, e muitos lembram
que a aliança entre Washington e Londres, na época de Tony Blair, produziu o
desastre da invasão do Iraque. As esperanças de que os britânicos saiam rapidamente
do jugo de Bruxelas não têm nenhuma base, já que as negociações serão demoradas
e duras. E enquanto não forem concluídas, os britânicos, mesmo que o governo
Temer, entre outros, queira, não podem negociar outro acordo de livre comércio.
A maior preocupação do mundo está agora orientada para a eleição
presidencial em maio na França. Os conceitos totalmente distintos sobre os
destinos do país, inclusive sobre sua permanência na União Europeia, seu papel
internacional, seu crescimento econômico e seu desenvolvimento social, estão em
jogo. Se a candidata da extrema direita Marine Le Pen ganhar no segundo turno,
a União Europeia vai sentir um golpe que pode ser fatal. Mas esse golpe está
mais perto na Holanda, onde haverá eleições em breve, e o partido de direita
pode ganhar, questionando inclusive a permanência do país na União Europeia. Só
que pode não ter maioria para formar um governo.
Os partidos de extrema direita estão crescendo em toda a Europa, entre
eles os neonazistas disfarçados, como na Alemanha, Hungria, Polônia, Croácia,
entre outros.
No outono europeu tem eleições na Alemanha. Se a atual Chanceler Angela
Merkel ganhar, a situação fica bem clara. Mas se perder, o opositor também não
vai questionar a permanência do país na União Europeia. Ainda há a Itália, onde
pode ter eleições, mas o grande perigo lá está no sistema bancário italiano,
altamente vulnerável e hoje em posição quase idêntica à da Grécia, que ainda
continua em dificuldades.
Neste ano, diminuiu o número de imigrantes sírios e do Norte da África
na Europa, apesar de que a crise está longe de ter sido resolvida e o
sofrimento das pessoas continua. Mas o grande perigo está na aparente visão do
Presidente Trump, que acha que acabar com a União Europeia ajuda a manter a
hegemonia dos Estados Unidos. Essa visão, que Trump coloca em prática em
pequenos gestos no dia a dia, não é um inverno para a Europa, mas o verdadeiro
presságio de um inferno, como a presença de soldados norte-americanos nas
fronteiras com a Rússia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário