Grande desafio: erradicar
analfabetismo entre adultos ainda é meta distante para os governos
Raul Mariano
SEM OBSTÁCULOS – Jander Alves voltou para a sala de aula 40 anos depois
de deixar os estudos; ele garante que irá cursar faculdade
O combate ao analfabetismo entre adultos continua a ser uma das grandes
metas para a educação no Brasil. Com 12,6 milhões de analfabetos, o país está
entre as 144 nações signatárias do Marco de Ação de Belém – realizado pela
Organização das Nações Unidas (ONU) – que não elevaram os níveis de
alfabetização da população adulta.
A avaliação, que considerou o intervalo de 2009 a 2015, está no 3º
Relatório Global sobre Aprendizagem e Educação de Adultos, lançado ontem pela
Unesco. Em Minas, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) apontam que o Estado segue a tendência mundial: o número de analfabetos
com mais de 20 anos de idade saiu de 1,3 milhão para 1,1 milhão de pessoas no
mesmo período de comparação. Uma redução de apenas 13%.
Mais de 66 mil jovens e adultos estão matriculados na EJA na Região
Metropolitana de BH
De acordo com o relatório, há problemas comuns à maioria das nações
observadas. As políticas de aprendizagem e educação de adultos de apenas 18%
dos países tratam de minorias étnicas, linguísticas e religiosas. Somente 17%
dos países tratam de imigrantes e refugiados e 17%, de adultos com
deficiências.
Recomeço
Quem decide recuperar o tempo perdido e encarar novamente os estudos
garante que o esforço é recompensado. É o caso de Eunice Gomes. Aos 58 anos,
ela cursa o 9º ano do ensino fundamental em uma das turmas da Educação de
Jovens e Adultos (EJA) do Colégio Nossa Senhora das Dores, na região Centro-Sul
de Belo Horizonte.
A mulher conta que abandonou os estudos quando se casou, aos 18 anos,
desestimulada pela própria família conservadora. Hoje, Eunice comemora o
retorno à sala de aula com empolgação.
“Sinto que minha capacidade de entender melhor a minha realidade
melhorou muito. Hoje, consigo dialogar melhor e entender o que está acontecendo
na política brasileira, por exemplo”, explica.
O aposentado Jander Alves, de 65 anos, também arregaçou as mangas para
encarar uma pausa de 40 anos longe das salas de aula. No 3º ano do ensino
médio, ele afirma que é um prazer adquirir novos conhecimentos e garante que
não quer mais parar.
1.795 turmas para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) foram abertas
em minas em 2017, segundo a Secretaria de Estado de Educação
“Pretendo fazer faculdade de economia. Gosto muito de matemática e de
assuntos políticos. Hoje, tenho muito mais consciência das coisas. O campo da
compreensão é que nos ajuda a evitar que outros nos manipulem”, afirma.
Atualmente, Minas conta com mais de 261 mil alunos cursando a EJA. Desse
total, 51% são mulheres e 49% homens.
Mudanças
No início de 2016, a Secretaria de Estado de Educação publicou duas
resoluções reorganizando o ensino médio noturno e Educação de Jovens e Adultos
(EJA) no Estado. Uma das alterações se refere ao horário de entrada dos
estudantes do ensino regular à noite e da EJA, que pode passar de 18h15 para as
19h. A saída também poderá mudar, de 22h30 para 22h14. A decisão de horário
fica a cargo de cada escola.
As mudanças de horário de entrada no noturno foram pensadas para evitar
atrasos por parte dos alunos que trabalham ou fazem estágios e se matricularam
no ensino médio e na Educação de Jovens e Adultos.
Hoje, Minas possui cerca de 71 mil alunos da EJA matriculados nos anos
finais do ensino fundamental e quase 190 mil alunos matriculados no ensino
médio, segundo dados do governo estadual.
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