quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

ENERGIA ESCURA - PRECISA SER CONHECIDA E DESVENDADA



Radiotelescópio feito no Brasil ajudará cientistas a conhecer "energia escura"

Agência Brasil 







O radiotelescópio montado na cavidade abandonada de uma mina de ouro


Equipamento construído no Brasil vai auxiliar cientistas no conhecimento da chamada “energia escura”, que representa cerca de 70% da composição do universo. O radiotelescópio vai medir as oscilações na distribuição de matéria no universo, conhecidas como Oscilações Acústicas de Bárions (em inglês, BAO).
O projeto é desenvolvido por um consórcio internacional formado por pesquisadores do Brasil, Reino Unido, da Suíça e do Uruguai. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) lidera o projeto, com a responsabilidade da construção, do desenvolvimento, da calibração, dos testes e análise de dados, bem como do comitê gestor do projeto. A coordenação-geral, do lado brasileiro, está sob a responsabilidade do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo o pesquisador do Inpe Carlos Alexandre Wuensche, responsável pela construção da instrumentação do projeto, o objetivo é medir as oscilações acústicas de baríons quando o universo era muito jovem. O equipamento permite a investigação da energia escura, tema de estudo da física, e ainda considerado um mistério para os cientistas.
Tecnologia
O radiotelescópio Bingo (da sigla em inglês para Oscilações Acústicas de Bárions em Observações de Gás Neutro) fará a medição da distribuição de hidrogênio neutro a distâncias cosmológicas, utilizando uma técnica chamada Mapeamento de Intensidade. Ele foi concebido por cientistas do Reino Unido, da Suíça, do Uruguai, da China e do Brasil para fazer a primeira detecção de BAO nas frequências de rádio.
Operando na faixa de frequência que vai de 0,96 GHz a 1,26 GHz, o equipamento contará com dois espelhos de 40 metros que iluminarão cerca de 50 cornetas de 4,7 metros de comprimento e 1,90 metro de abertura. O custo total estimado é de US$ 4,9 milhões.
Do lado brasileiro, o projeto tem financiamento de R$ 12 milhões pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Os recursos são investidos no desenvolvimento dos componentes para módulos receptores e a construção e montagem de antena. A equipe brasileira é composta de 25 pessoas, entre pesquisadores, técnicos, engenheiros e estudantes.
De acordo com o pesquisador, o projeto é um desafio para o país. “A indústria brasileira nunca construiu nada desse tamanho e com essa precisão”, afirma.
O radiotelescópio tem previsão de ser instalado em 2018, no Noroeste do Uruguai. A posição para instalação do equipamento considera aspectos como área despovoada, sem a contaminação de ondas de rádio e instalações de torres de celular para evitar, assim, qualquer tipo de interferência. As primeiras análises, em caráter preliminar, devem ser divulgadas um ano após a instalação do equipamento.
As Oscilações Acústicas de Bárions são utilizadas em astrofísica para entender os processos de formação de aglomerados de galáxias, medir a expansão do universo e a quantidade de matéria escura. A escala de BAO é uma das sondas mais poderosas para investigar parâmetros cosmológicos, incluindo a energia escura.

O QUE É ENERGIA ESCURA?

Tipo misterioso de energia pode corresponder a nada menos que 73% de tudo o que existe no Universo.

Reinaldo José Lopes
A maior parte dos modelos que tentam explicar a origem e a evolução do universo hoje parecem concordar que a energia escura é o principal componente da somatória da matéria e energia do cosmo, os tais 73% da conta universal que faltavam. Daí a saber exatamente o que é essa força, no entanto, vai uma grande distância.
A existência dessa energia misteriosa ganhou status mais ou menos seguro em 1999, quando observações de galáxias confirmaram que o universo não apenas está se expandindo, como aparentemente o faz desde o Big Bang, mas também está acelerando sua expansão – “em um ritmo praticamente constante”, diz o físico Paul Steinhardt, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos.
“Ela pode ser considerada tanto como um novo aspecto da gravitação, uma gravidade repulsiva, quanto um novo tipo de matéria-energia. Ainda é cedo para uma decisão”, afirma Laerte Sodré Júnior. “O efeito dela não é uma nova força. É apenas gravidade”, diz Steinhardt. De qualquer maneira, alguma característica especial da energia escura faz com que ela vire o papel típico da gravidade (fazer com que as coisas atraiam umas às outras) de ponta-cabeça, de forma que ela se manifeste inesperadamente como repulsão – o que propele a expansão do universo, lançando as grandes estruturas, como galáxias e aglomerados de galáxias, umas para longe das outras.
A possibilidade de que a gravidade se comportasse desse jeito maluco já tinha sido prevista em trabalhos de Albert Einstein de 1917. Como o célebre físico alemão acreditava que o universo tinha de ser finito e estático, ele criou a chamada constante cosmológica, uma força que contrabalançava a gravidade e impedia que planetas, estrelas e galáxias grudassem uns nos outros.
Hoje, no entanto, muitos pesquisadores acreditam que a energia escura não deve ter agido durante toda a história do nosso cosmo, já que ela teria impedido a formação de estruturas aglomeradas e complexas no passado remoto.
Falta, é claro, provar essa teoria. Se for descoberto que a ação da energia escura muda ao longo do tempo, pode ser que ela não conduza o universo a uma expansão sem fim.

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