Em BH, crise fecha 20
empresas por dia; baixas chegaram a 3 mil por mês em Minas
Janaína Oliveira
Imóvel onde funcionou o Café La Place, na Praça Tiradentes, está à
procura de novo locador há vários meses
O ano de 2016 foi para um grande número de estabelecimentos a hora de
dizer adeus ao mercado e encerrar as atividades.
Segundo dados da Junta Comercial de Minas Gerais (Jucemg), 36.635
empresas, dos mais diversos portes e segmentos, fecharam as portas no Estado
entre janeiro e dezembro do ano passado, o equivalente a um crescimento de
35,7% na comparação com igual período em 2015. É como se mais de três mil
negócios, em média, tivessem deixado de existir a cada mês.
A crise que paralisa a economia brasileira também deixou um rastro de
empresas desativadas em Belo Horizonte.
Na capital mineira, 7.366 empreendimentos comerciais despediram-se dos
clientes em 2016, o que representa um aumento de 36,6% sobre os 5.390
estabelecimentos que encerram as atividades em 2015. Na média, significa que 20
empresas baixaram as portas a cada dia em 2016, ou 613 por mês.
Na Savassi, vários pontos comerciais estão fechados
na rua Sergipe desde 2016
De acordo com o levantamento da Jucemg, as piores vítimas, tanto no
Estado quanto no país, foram as sociedades limitadas, com mais de um sócio,
seguidas pelos empresários individuais.
Nessa modalidade, que é diferente da figura do microempreendedor individual
(MEI), uma pessoa física abre a empresa, não pode ter sócio e responde com o
patrimônio pelas dívidas da empresa.
Para o vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo
Horizonte (CDL-BH), Marco Antônio Gaspar, o fechamento em massa é consequência
do aumento do desemprego, que já atinge 12,3 milhões de trabalhadores no país,
da queda da renda, dos juros altos e da instabilidade política e econômica.
“O dinheiro sumiu da praça. E o chamado Custo Brasil, com seu conjunto
de dificuldades burocráticas, tributárias e econômicas que encarecem o
investimento, só piora as coisas. Aí quando a crise bate, tudo fica exacerbado
e as empresas acabam quebrando”, lamenta.
“O cenário de crédito farto ficou no passado. Temos que construir um
novo modelo, com adaptações, para minimizar o fluxo de fechamento(...) Temos
que achar caminhos dentro de uma nova realidade econômica”
Haroldo Santos
Analista do Sebrae-MG
Haroldo Santos
Analista do Sebrae-MG
Inovação
Segundo ele, apesar de todos fatores complicadores, um remédio que pode
ajudar a controlar a falência é a inovação. Práticas comerciais que no passado
davam certo atualmente não funcionam mais.
“Eu mesmo estou à frente de uma papelaria fundada pelo meu pai há 45
anos. Em duas décadas, promovi, pelo menos, cinco mudanças significativas, com
introdução de delivery, viés de loja de presentes e e-commerce de mochila.
Quando comecei no ramo, só existiam as marcas Company e Samsonite. Hoje, o
mercado oferece mais de mil tipos”, diz.
Para o analista do Sebrae-MG, Haroldo Santos, os empresários precisam
ter em mente que aquele modelo de negócio que até dois anos atrás dava certo
acabou.
“O cenário de crédito farto ficou no passado. Temos que construir um
novo modelo, com adaptações, para minimizar o fluxo de fechamento”, diz.
Segundo Santos, um bom empreendimento hoje deve obrigatoriamente buscar solucionar problemas da clientela.
Segundo Santos, um bom empreendimento hoje deve obrigatoriamente buscar solucionar problemas da clientela.
“Temos que achar caminhos dentro de uma nova realidade econômica e
política. Não adianta só abrir uma casa de açaí. Tem que ter diferencial,
servi-lo em uma barca bonita, para satisfazer a família. O atendimento
personalizado é outro fator. E ainda tem as oportunidades que vão surgindo.
Conserto de carros, roupas e eletrodomésticos que estavam em desuso, por exemplo,
agora estão bombando”, afirma.
Na avenida Getúlio Vargas, na Savassi, churrascaria Ambrosio’s sucumbiu
à crise
Sem saída, estabelecimentos tradicionais encerram atividades
Foram centenas de estabelecimentos comerciais com vários anos de
existência que fecharam as portas em 2016, em Minas e em Belo Horizonte,
deixando saudade na freguesia.
A confeitaria Bendita Gula, o Café La Place, os restaurantes Villa
Robertti e Xico Nunes Savassi, a churrascaria Ambrósio’s, as Lojas Dadalto, as
livrarias Status e Van Damme são exemplos de empresas “maduras” que sucumbiram
à crise no país e à falta de dinheiro entre a clientela.
E mesmo na capital dos bares e botecos, um dos setores que mais sentiram
o baque foi o de alimentação fora do lar.
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de
Minas Gerais (Abrasel-MG), Ricardo Rodrigues, o cenário é “devastador”, com
quatro em cada 10 estabelecimentos operando no vermelho.
“Não se trata de um espetinho que abre porque o segmento está na moda
mas acaba fechando as portas. São casas tradicionais, há anos no mercado, que
não estão aguentando, infelizmente”, diz.
Segundo ele, muitos empresários têm feito malabarismo para manter as
portas abertas, com criação do sistema de delivery, mudança de cardápio,
elaboração de promoções e ampliação ou redução de horário.
“Chega uma hora que a criatividade não é mais suficiente”, afirma.
Rodrigues diz ainda que a onda dos food trucks ajudou a colocar “água no chope”
e diluir os lucros. Ele espera, entretanto, que o pior já tenha passado.
Mas para o vice-presidente da CDL-BH, Marco Antônio Gaspar, as
perspectivas não são nada animadoras para 2017.
“A princípio, achamos que o ano seria propício para uma retomada na
economia. No entanto, as denúncias da “Lava Jato” continuam e a situação piorou
no fim do ano passado com as 77 delações da Odebrecht, inclusive com citações
do presidente Michel Temer. Isso traz de volta a instabilidade política, que
por sua vez agrava a crise econômica”, afirma.
Quem também se despediu dos clientes foi a confeitaria Bendita Gula, que
tinha várias lojas
Além Disso
O cenário nebuloso na economia do país afugentou novos investimentos em
Minas Gerais. No ano passado, 39.987 empresas foram abertas no Estado, o que
representa uma queda de 4,4% ante os 41.839 estabelecimentos comerciais
inaugurados em 2015.
Já em Belo Horizonte, o número de aberturas ficou praticamente estável.
Entre janeiro e dezembro do ano passado, 9.304 empresas abriram as portas, o
que corresponde a um ligeiro aumento de 0,88% sobre as 9.222 que entraram em
funcionamento em 2015.
Segundo o vice-presidente da CDL-BH, Marco Antônio Gaspar, os baixos
números sobre a abertura das empresas podem ser explicados pela instabilidade
econômica e política que o país atravessa.
“Ninguém vê incentivo para investir em uma empresa. Alguém que está
capitalizado vai tirar dinheiro do Tesouro Direto, que rende quase 1% de juros
ao mês, para montar um negócio sem qualquer garantia de retorno? Duvido”,
disse.
Escassez de crédito e encarecimento de empréstimos, burocracia, elevada
carga tributária e custo trabalhista são outros fatores que ajudam a inibir os
potenciais candidatos a empresários.
Uma das mais tradicionais livrarias da capital, a Van Damme fechou em
dezembro do ano passado
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