Trump aperta cerco a
imigrantes ilegais; comunidade brasileira nos EUA está apavorada
Bruno Moreno
Última edição da Brazilian Day, festa da comunidade brasileira em Nova
York: ilegais tratados como inimigos
Uma das principais bandeiras do novo presidente dos Estados Unidos,
Donald Trump, o combate à imigração e aos imigrantes ilegais, começou a ser
colocada em prática ontem. Os dois decretos assinados ontem por Trump ainda não
atingem diretamente os brasileiros ilegais residentes naquele país, mas geraram
enorme insegurança na comunidade por conta da escalada da repressão.
Ontem, Trump assinou o decreto determinando a construção de um muro na
fronteira com o México para impedir a entrada de imigrantes ilegais. Segundo
ele, as obras começarão dentro de alguns meses. E reiterou que o México pagará
os cerca de US$ 20 bilhões previstos para cobrir os 3,2 mil quilômetros de
extensão da fronteira.
O presidente norte-americano também assinou decreto que tem como alvo as
chamadas “cidades santuário”, nas quais os imigrantes são protegidos da
deportação. A ordem é aumentar o número de centros de detenção e cortar os
recursos federais a essas cidades, a maioria governada pela oposição democrata.
O efeito desse decreto não é imediato, já que seu objetivo é obrigar a
mudanças nas leis estaduais e municipais. Mas deixa claro que os imigrantes
ilegais estarão sob pressão crescente, com menos chance de trabalho e correndo
mais risco de deportação.
Nos próximos dias o presidente deve tomar mais medidas de restrição à
imigração. Entre elas, decretos para limitar a entrada de refugiados e bloquear
a emissão de vistos a pessoas de vários países de maioria muçulmana.
Mas o decreto que afetará diretamente os brasileiros, também esperado
para os próximos dias, será o que dará poder à polícia comum de fiscalizar e
deter imigrantes ilegais.
Brasileiros
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, há 1,4 milhão de
brasileiros nos EUA, mas não há uma estimativa de quantos são legais e quantos
ilegais.
Entre eles está a belo-horizontina Ione Costa, de 43 anos, que emigrou
em 2010 e atualmente já possui cidadania norte-americana. Ela mora perto de
Miami e é dona de uma empresa de serviços de limpeza doméstica. Entre seus
empregados estão vários brasileiros ilegais.
“Se Trump cumprir o que prometeu, os imigrantes aqui terão problemas.
Quem é ilegal não vai poder trabalhar, nem ligar a luz do apartamento”, disse.
Ione está legal nos
Estados Unidos, mas teme pelo futuro dos empregados de sua empresa de limpeza
Expectativa por
novas leis faz brasileiro se preparar para o pior
O paranaense Pedro
(nome fictício) é um dos milhares de brasileiros que moram e trabalham
ilegalmente na Florida. Ele entrou legalmente no país em 2005, com visto de
turista.
Hoje, aos 43, ele e
a esposa são imigrantes ilegais e vivem a ansiedade da concretização das
promessas de repressão feitas por Trump. “É difícil saber o futuro daqui,
mas falei com a minha mulher que temos que nos preparar para o pior. O clima é
de total incerteza”, disse.
A situação do filho
do casal, de 17 anos, é legal, já que ele foi beneficiado pelo programa “DACA”,
criado por Barack Obama em 2012 e que ajudou mais de 750 mil imigrantes ilegais
que chegaram ao país menores de idade a obter vistos de residência e trabalho.
Trump prometeu revogar essa lei.
Já o estudante de
mestrado (MBA) Jorge Nascimento, de 40 anos, mora na Flórida há dois anos e
meio e espera continuar. No entanto, para que consiga permanecer dentro da
legalidade, é obrigado a estudar continuamente para não perder o visto de
estudante. Atualmente está cursando doutorado.
Jorge Nascimento:
estudo continuo para não perder o visto de estudante
Desconstrução
As medidas
anti-imigração de Trump fazem parte do esforço do ex-presidente de desfazer
metodicamente o legado de seu antecessor democrata, conforme havia prometido
durante sua campanha.
Logo após tomar
posse, anunciou a retirada dos EUA do acordo de livre comércio Ásia-Pacífico
(TPP).
Ele tambem retomou o
projeto do gigantesco oleoduto Keystone XL ligando o Canadá aos Estados Unidos,
cuja construção foi bloqueada por Obama em nome da luta contra as mudanças
climáticas.
Nos Estados Unidos,
se os republicanos saudaram o anúncio com entusiasmo, ambientalistas e eleitos
democratas denunciaram em uníssono uma iniciativa tomada em detrimento das
questões climáticas.
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