É possível ser feliz?
Simone Demolinari
O estudioso e psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi chamou de autotélicas as
pessoas que precisam de poucos bens materiais, pouco entretenimento, lazer,
pouco conforto, poder ou fama, sendo mais autônomas e independentes por não se
sentirem ameaçadas ou seduzidas pelas recompensas externas. São indivíduos que
sentem prazer em tudo ao seu redor e realizados nas atividades que exercem.
Para entender melhor esse conceito é necessário a distinguir realização
de sucesso. A realização é algo interno. Uma sensação que vem de dentro e se
orienta para um fim que o próprio indivíduo se propõe. Daí a origem da palavra
autotélico – “auto” que significa “por si mesmo” e “telos” que significa “fim”.
Assim sendo, a experiência autotélica refere-se a uma atividade
autossuficiente, envolvente, realizada sem a expectativa externa. Já o sucesso,
ao contrário disso, é algo orientado “para fora”, para tudo que julgamos que
irá impressionar os outros. Tem mais a ver com a vaidade e competitividade
social.
Na visão de Mihály, uma pessoa autotélica sente-se realizada e
preenchida porque suas habilidades se emparelham às suas oportunidades. Há um
casamento perfeito entre a propensão para agir e a ação.
Contudo, isso é um fenômeno raro. O que geralmente ocorre é o inverso,
um desencontro desses comportamentos. Por exemplo: um indivíduo que tem um
desafio maior que suas habilidades, provavelmente sentirá ansiedade e angústia.
Já aquele cujas habilidades são superiores ao desafio, se sentirá entediado.
Porém, quando há um equilíbrio entre a habilidade e o desafio, surge a
autotelia.
O estudo sugere que a felicidade depende das experiências autotélicas a
partir de qualquer atividade, da mais útil a mais inútil; da mais simples a
mais sofisticada, incluindo desde atividades criativas, música, esporte, jogos,
aprendizado, hobbies até estudar, dirigir, limpar a casa, entre outras.
Este conceito nos ajuda a entender pessoas com alto nível de felicidade
mesmo sem dinheiro. Decifra também a atitude daqueles que abandonam altos
salários em busca de algo que faça mais sentido para sua vida. Afinal, sucesso
financeiro nunca foi garantia de felicidade. Claro, que não pode faltar
dinheiro para o básico como comida, alimentação, moradia e algum para o
supérfluo também é importante. Contudo, a sensação de plenitude e autotelia não
tem vínculo com bens materiais.
Pessoas autotélicas tendem a registrar permanentemente estados
emocionais positivos. Sentem que sua vida é mais significativa, pois, para
elas, o processo já é o próprio resultado. Possuem a competência de viver de
maneira independente e com autonomia emocional. Estão inteiros em si, submersos
no fluxo da vida.
Experiências autotélicas, este é meu voto para ano que se inicia!
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