O chão que pisamos
Manoel Hygino
Sem ser pessimista, vislumbro horizontes não muito animadores. Quem
acompanha estas observações diárias, verifica que o passar dos dias os
confirmam. Por isso, quando leio que a expectativa de vida do brasileiro segue
crescendo, pergunto-me: que culpa têm as novas gerações? Não basta viver mais
tempo, fundamental é a qualidade de vida que se tem. O IBGE informa que os
nascidos viverão em média 75,5 em 2015. Bom ou ruim?
Depende de uma gama imensa de fatores. Mas, o presidente do próprio
IBGE, Paulo Castro, antecipa: o Brasil enfrentará um período de estagnação em
vez de recuperação, mesmo que a previsão de crescimento para a economia em 2017
se concretize. Ainda que o país saia da recessão, o avanço será insuficiente
para vencer a crise (substantivo mais comumente empregado presentemente por
estas bandas).
Castro declarou que o momento atual ainda é de piora nas projeções. Um
dos fatores é o desarranjo no setor produtivo: “Algo há de errado na disposição
desse time. As empresas entram mal em campo, as pessoas são desempregadas.
Todos ficam desesperançados, a produtividade geral cai e o governo gasta
demais, cobrando de todos para coibir a gastança”. Sem falar na alta taxa de
juros, medida útil para período curto, mas que persiste há décadas.
O governo Temer decidiu mexer numa caixa de marimbondos, antes incluídos
em pauta como temas permanentes, embora mais para manter as
aparências. Entre eles, porque duradouros, os salários no serviço público
e a reforma da Previdência, que interessam profundamente a todos.
Em meio ao torvelinho de enormes dificuldades, acirram-se os ânimos
entre Legislativo e Judiciário, aflorando arestas, talvez ressentimentos.
Chegou-se, assim, ao clima de quase uma crise institucional, que não
interessa a quem quer que seja, em tempo algum, a não ser aos pregoeiros,
incentivadores e soldados da baderna.
Quando se aprovou o limite dos salários dos servidores públicos da
União, considerando o que percebem os ministros do Supremo Tribunal Federal,
pareceu-se classificar suas excelências do Judiciário como privilegiados com
uma espécie de supersalário da República. No entanto, há muita gente ganhando
acima do teto e Renan está no encalço dos felizardos. Aliás, não será difícil
identificá-los e não só na máquina federal, nem só no Judiciário.
Como consequência, o noticiário da imprensa revela que todos os
funcionários querem agora subir na escala salarial para chegar à remuneração
dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Já é bom em um país em que as
remunerações, de modo geral, são tão baixas. Aliás, seria por isso mesmo que se
apela a múltiplos artifícios para alcançar patamares mais altos, mesmo através
de propinas e outros meios criminosos.
No fundo, o que o brasileiro quer é apenas sobreviver – o que não anda
nada fácil. O homem de rua acha que quem trabalha não tem tempo de ganhar
dinheiro. Este o Brasil em que estamos e em que vivemos, que exige mudanças –
difíceis – para melhorar-se e às condições de existir de sua população.
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