Final de ano tem duelo
entre o Legislativo e o Judiciário
Orion Teixeira
Com a chegada das investigações da Operação Lava Jato ao andar de cima,
os políticos com mandatos começaram a reagir e a retaliar o Judiciário e o
Ministério Público, os principais responsáveis pelas investigações. Nesta
última semana do ano parlamentar, os comandos da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal se uniram para instabilizar e constrangê-los ao mesmo tempo em
que buscam sustentar o Executivo na hora mais crítica de sua falta de
legitimidade. Se no governo da ex-presidente Dilma Rousseff faziam pautas
bombas para desestabilizar a gestão dela, agora, voltam-se contra o Judiciário
e o Ministério Público com pautas do “fim do mundo”, como chamam lá.
>Para se ter ideia, o presidente do Senado, Renan Calheiros, que já
se tornou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) e é um dos principais
investigados na Lava Jato, colocou em pauta nada menos do que seis projetos que
afetam diretamente juízes, desembargadores, promotores e procuradores, além de
integrantes das Polícias Civil e Federal. São o PLS 280/2016, que altera a lei
de abuso de autoridade; o PLS 449/2016, que regulamenta o limite remuneratório
dos servidores; o PLS 450/2016, que altera a Lei de Acesso à Informação para obrigar
a divulgação das remunerações pagas aos agentes públicos; o PLS 451/2016, que
configura improbidade administrativa para pagamento acima do teto, e a PEC
62/2015, que impõe o fim da automaticidade dos reajustes.
Com jeito de moralizantes, as medidas interferem e tentam legislar sobre
salários de outro poder, cuja iniciativa é da presidência do STF, e
criminalizar a ação judicante e investigadora.
Em novo round entre os dois poderes, na quarta (14) à noite, o ministro
Luiz Fux, do STF, determinou a devolução do projeto com dez medidas de combate
à corrupção à Câmara dos Deputados, que deverá analisar a proposta novamente a
partir da “estaca zero”.
Apresentado pelo Ministério Público, com apoio de 2,5 milhões de
cidadãos, o projeto foi desfigurado na Câmara para incluir exatamente artigo
que pune os investigadores por excessos. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), classificou como “estranha” a liminar (provisória) do ministro.
“Infelizmente, me parece uma intromissão indevida do Poder Judiciário na Câmara
dos Deputados”, reagiu.
Mais diálogo e menos confronto
Ao tomar posse, nesta quinta-feira (15), em Brasília, o vice-presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), desembargador mineiro Nelson Missias de Morais, disse que “é preciso reconstruir pontes porque o confronto não leva a bom termo”. Ele integra a nova diretoria da AMB empossada, que ainda é composta por outros 22 magistrados mineiros.
Em sua avaliação, por ser um poder originalmente técnico, o Judiciário é
muito visado. “O que está acontecendo é falta de diálogo, porque a sociedade
precisa de um Judiciário independente e da liberdade de julgar para estabelecer
o equilíbrio entre o fraco e forte”.
O presidente da Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis),
desembargador Maurício Soares, viu na movimentação parlamentar tentativa de
intimidação e de amordaçamento contra independência judicial e as atividades da
Polícia e do Ministério Público. “Se virar lei, inviabilizará investigações
como as operações Lava Jato, Zelotes, Pandora, entre outras”, advertiu.
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