O gosto amargo da rejeição
Simone Demolinari
A dor causada pela rejeição talvez seja um dos sentimentos mais difíceis
de ser superado. Parece que o ser humano resiste a quase tudo na vida, mas
continua frágil mediante uma rejeição.
A sensação de ser rejeitado em nenhum aspecto é bem digerida. Ela é
sentida quando somos demitidos, substituídos, desprezados, esquecidos ou não
correspondidos afetivamente.
A autoestima é a primeira a ser abalada, porém, cada pessoa reage de
forma bem particular a ela. Uns recuam e evitam a situação causadora da dor,
enquanto outros, de forma inversa, passam a desejar ainda mais o objeto de
desejo.
Há também aqueles que, de tanto medo de ser rejeitados, agem
inconscientemente de maneira “preventiva”: rejeitam antes de serem rejeitados; traem
antes de serem traídos; atacam antes de serem atacados. Uma forma equivocada de
se prevenirem contra a dor.
Mas por que reagimos tão mal frente a uma rejeição?
É possível que a dor da rejeição tenha mais a ver com a sensação de menos valia do que com a perda do objeto de desejo em si. O fato de sermos preteridos, deflagra não só a ferida do vazio, como nos coloca frente a um espelho de que tanto evitamos olhar: nós mesmos.
É possível que a dor da rejeição tenha mais a ver com a sensação de menos valia do que com a perda do objeto de desejo em si. O fato de sermos preteridos, deflagra não só a ferida do vazio, como nos coloca frente a um espelho de que tanto evitamos olhar: nós mesmos.
Além disso, a rejeição implica em solidão, em abandono (não só físico,
mas de planos, de sentimentos, de expectativas) e nessa hora vemos o nosso
mecanismo de defesa ruir. Vem à tona a fragilidade e o rei fica nu. É preciso
lidar com o nítido sentimento de fracasso, que fere a vaidade, machuca o ego e
derruba a fantasia de sermos únicos.
Um estudo feito em 2001, o Surgeon General, dos EUA, emitiu um relatório
afirmando que a rejeição representa um risco de violência na adolescência maior
do que as drogas, a pobreza ou a participação em gangues. Outros estudos mais
recentes também têm apontado que mesmo as rejeições leves são capazes de tornar
as pessoas mais irritadiças, podendo a chegar a surtos de agressividade.
Outro fato interessante sobre a rejeição foi explicada por Guy Winch,
autor do livro “Emotional First Aid” (Primeiros Socorros Emocionais). Segundo
ele, a dor da rejeição ativa as mesmas áreas da dor física deixando o indivíduo
tão ou mais sofrido que alguém que está fisicamente machucado. Talvez, doa até
mais, visto que para a dor emocional não há remédio.
Mas, mesmo sendo essa dor uma mera criação do nosso narcisismo, é
difícil deixar de senti-la.
Para tentar atenuar o sofrimento é preciso conviver melhor com nossa
vulnerabilidade e sobretudo fortalecer a confiança em si mesmo. Um bom caminho
para isso é o autoconhecimento. Através dele é possível trazer à consciência
não só a nossa limitação, mas também a nossa essência.
Isso me lembra uma frase de Carl Jung que diz: “Quem olha para fora
sonha, mas quem olha para dentro desperta”.
O despertar nos deixa mais autônomos emocionalmente.

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