Em Minas, um pequeno grupo
de cidades não sabe o que é recessão e desemprego
Tatiana Lagôa e
Janaína Oliveira
Planejamento – Infraestrutura turística e agenda recheada de eventos e
festivais blindaram a economia de Tiradentes
Em função da recessão, a grande maioria dos municípios brasileiros pena
com queda na arrecadação de impostos e diminuição dos repasses da União. Mas um
pequeno grupo de cidades em Minas está conseguindo driblar a crise – e até
mesmo crescer – graças às características e potencialidades econômicas locais.
Algumas delas são exemplo de sucesso de planejamento de longo prazo.
Outras tiveram a sorte de experimentar uma conjugação positiva de variáveis
econômicas que não podem ser reproduzidas em outros locais.
Com apenas 7 mil habitantes, Tiradentes, no Campo das Vertentes, atrai
turistas como “gente grande”. Graças ao seu charme e patrimônio histórico, e
também pelo esforço na atração de um turismo qualificado, o município não sofre
com a crise. Neste ano, a cidade ainda teve a ajuda da alta do dólar, que tira
o fôlego dos roteiros internacionais mesmo entre os mais abonados e redireciona
os viajantes para destinos domésticos.
“A cada ano recebemos um número maior de visitantes, que no geral têm um
bom poder aquisitivo. É um turista qualificado, exigente e disposto a gastar, o
que movimenta a economia local”, diz o prefeito Ralph Justino (PV).
De saída da prefeitura após quatro anos de mandato, ele diz que o
turismo é o principal responsável por não deixar as contas municipais no
vermelho. “Sofremos dificuldade por causa da queda do repasse de verbas
federais e mais obrigações financeiras impostas pela União, como o reajuste do
salários dos professores. Mas não atrasei salário, paguei o 13º em dia e ainda
vou deixar um dinheiro em caixa para o meu sucessor”, afirma Justino.
No mês de julho ou em feriados, a ocupação de hotéis e pousadas chega
próxima a 95%. Já para festivais tradicionais, como Bike Fest, encontro de
motociclistas, Festival de Cultura e Gastronomia e Mostra de Cinema, a ocupação
é de 100%. “Isso movimenta as pousadas, restaurantes e toda gama de prestação de
serviços, gerando emprego e renda”, diz.
O prefeito não soube precisar a arrecadação com turismo ou mesmo o
número de turistas que Tiradentes recebe por ano.
Emprego
Considerada um ponto fora da curva em meio ao fechamento de vagas e de
empresas país afora, Extrema figura atualmente como o município que mais gera
empregos no Sul de Minas, e fica na quinta posição no Estado e 55ª no Brasil.
Segundo dados do CAGED, do Ministério do Trabalho, Extrema abriu 794
postos entre os meses de janeiro e outubro de 2016, enquanto vizinhas como
Pouso Alegre e Camanducaia, por exemplo, fecharam 552 e 131 vagas
respectivamente.
“Enquanto a maioria dos municípios do Brasil sofrem com problemas
financeiros e administrativos, Extrema apresenta condições diferenciadas.
Desenvolvemos um programa de capacitação de empresas dos mais variados setores
que, hoje, garantem empregos para mais de 65% da população ativa”, diz o
prefeito Luiz Carlos Bergamin (PSDB), que encerra no próximo mês um ciclo de
oito anos consecutivos à frente da administração municipal.
Segundo Bergamin, a cidade possui indústrias dos setores automotivo,
alimentício, metalúrgico, vestuário, estética, eletrodomésticos (Panasonic e
outras), além das empresas de serviço e distribuição.
“As empresas que estão no município se equilibram pela sazonalidade
comercial. Enquanto um setor diminui a intensidade, as demais aquecem e mantém
a curva do emprego sempre em expansão”, diz.
Extrema é considerada a capital regional do chocolate, já que conta com
a presença da suíça Barry Callebaut, a maior fabricantes de chocolates do
mundo, além do grupo CRM, detentor das marcas Kopenhagen e Chocolates Brasil
Cacau. No segmento, ainda há uma fábrica da Bauducco.
“Essas empresas reconhecem na nossa localização geográfica uma posição
estratégica para escoamento de mercadorias”, afirma o prefeito, que será
sucedido pelo colega de partido João Batista.
Segundo ele, a arrecadação de Extrema é estimada em R$ 162 milhões para
o exercício de 2016. Em caixa, o município possui hoje aproximadamente R$ 45
milhões.
Enquanto algumas poucas cidades mineiras crescem, o Brasil perdeu 751,8
mil vagas de empregos entre janeiro e outubro. Em Minas Gerais, o saldo
negativo é de 55,2 mil no mesmo período. A expectativa é que o país tenha uma
queda de 3,49% no PIB em 2016, segundo boletim Focus do Banco Central
Grãos e mineração de ouro são antídotos de municípios contra a derrocada
econômica
Paracatu, no Noroeste de Minas, é uma das ilhas de desenvolvimento em
meio à crise. Com cerca de 85 mil habitantes, a cidade tem duas atividades
principais: a mineração, graças às reservas de ouro, calcário, zinco e chumbo,
e a agropecuária. Na agricultura, o município tem mais de 40 mil hectares de
área irrigada com produção de milho, feijão e soja.
E é justamente graças a essas duas vocações econômicas que a cidade
apresentou alta de 10,7% na arrecadação total entre janeiro e outubro na
comparação com o mesmo período de 2015, passando de R$ 158,96 milhões para R$
176,05 milhões, segundo o secretário Municipal da Fazenda, Flávio Côrtes Ramos.
No caso da mineração, a cidade se “gaba” de a Kinross Gold Corporation,
multinacional que detém os direitos de exploração, ser responsável por 22% do
ouro produzido no Brasil.
A expectativa da prefeitura é arrecadar em torno de R$ 210 milhões em
2016. Se efetivado, o volume será 19% maior do que os R$ 176 milhões alcançados
em 2015.
O nível de empregos também está positivo na cidade. Segundo dados do
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho
e Emprego, de janeiro a outubro, Paracatu teve um saldo positivo de 633
empregos.
Café
Já em Guaxupé, no Sul de Minas, o café é o diferencial econômico. A
cidade abriga a Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé Ltda
(Cooxupé), que recebe café produzido em mais de 200 municípios.
“Nós temos várias fazendas produtoras de café e a presença de uma
cooperativa exportadora no município deixa o mercado movimentado todo ano”,
afirma o secretário de desenvolvimento econômico da cidade, Renato Carlos Gouvêa.
O comércio e o setor de serviços sentem reflexos positivos. “Enquanto
nas outras cidades o comércio segue no negativo, aqui nós vamos, na pior das
hipóteses, repetir o resultado de 2015”, afirma o presidente da Associação
Comercial e Industrial e Guaxupé, Aroldo Moreira.
Segundo o superintendente de política econômica e agrícola da Secretaria
de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), João Ricardo
Albanez, o ano está sendo positivo para os municípios produtores de base
agrícola em função do aumento da safra e da elevação dos preços internacionais
das commodities. O milho saiu de um preço médio de R$ 29,05 a saca de 60 quilos
em 2015 para R$ 45,65 em 2016, uma variação de 57%. A soja valorizou 13%,
passando de R$ 72,65 para R$ 82,12; e o café, 8% saindo de R$ 451,03 para R$
487,44.
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