Nem Noel salva a indústria
Raul Mariano
O setor de máquinas e equipamentos foi um dos mais afetados com a queda
dos investimentos
No que depender da indústria, a retomada do crescimento econômico ainda
vai demorar para acontecer. O setor registra perdas há pelo menos dois anos e a
expectativa de recuperação no segundo semestre de 2016 não se confirmou, como
previam os mais otimistas. Nem mesmo os pedidos do Natal, que eram a esperança
de aquecimento no último trimestre e reduziram 10% na comparação com o ano
anterior, foram suficientes para impedir o fechamento no vermelho. Pelo
contrário, os índices de emprego, faturamento e utilização de capacidade
instalada voltaram aos mesmos patamares de uma década atrás.
O receio generalizado de consumidores, lojistas e empresários da
indústria diante de uma situação financeira já debilitada contribuem para que o
setor continue rolando ladeira abaixo. Para especialistas, o nível de
endividamento elevado atrapalha a tomada de decisão dos compradores mesmo com
uma inflação em declínio. Da mesma forma, o comerciante e o industrial pisam no
freio para evitar que estoques continuem elevados, completando o ciclo de
estagnação.
Emprego
Os reflexos no emprego são evidentes. No acumulado dos 12 meses
terminados em setembro a indústria da transformação fechou mais de 461 mil
postos de trabalho no país, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged). Em todo setor produtivo, mais de 1,5 milhão de vagas
foram extintas no mesmo período.
Para o economista Marcelo Azevedo, da Confederação Nacional da Indústria
(CNI), é pouco provável que a recuperação aconteça de forma acelerada. “A
natureza dos problemas que temos enfrentado e a longevidade deles vai
dificultar a recuperação. Ainda há ociosidade grande e o empresário não vai
investir tendo um terço de suas máquinas paradas. O próprio índice de confiança
que vinha melhorando muito, não melhorou tanto em outubro”, avalia.
Exportações
Com a valorização do real frente ao dólar, o aquecimento da indústria
pela via das exportações também perde força, uma vez que os produtos
brasileiros se tornam mais caros no mercado externo.
Em outubro, as vendas externas brasileiras alcançaram US$ 13,7 bilhões,
de acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços
(Mdic). Na comparação com o mesmo período do ano anterior, houve recuo de
10,2%, e de 8,8% em relação a setembro de 2016.
Em Minas, a capacidade produtiva da indústria despencou puxada
principalmente pelos setores de máquinas e equipamentos, automotivo e extrativo
mineral. No faturamento, o recuo nos últimos 12 meses já é de 14,3%, segundo
dados da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
No acumulado do ano até setembro, o setor de veículos automotores
registrou sozinho uma queda de 41,8%, a maior variação negativa do período
seguindo uma tendência que se repete desde o mês de janeiro. No mesmo período,
a retração no licenciamento de veículos foi de 22,8%.
Segmento ainda sofre com a falta de investimentos
Se os indicadores de queda da atividade industrial já são preocupantes,
a situação é ainda pior quando considerada a ausência de investimentos no
setor. Dados do Instituto Econômico de Pesquisa Aplicada (Ipea) apontam que a
Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador que funciona como termômetro
da indústria, teve redução de 2,2% em setembro na comparação com o mês
anterior. É o terceiro recuo mensal consecutivo.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a FBCF caiu 10,6%. Já no terceiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, o investimento registrou redução de 9,9%.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a FBCF caiu 10,6%. Já no terceiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, o investimento registrou redução de 9,9%.
“O recuo dos investimentos no terceiro trimestre reforça a expectativa
de uma recuperação lenta da economia brasileira”, afirma o técnico de
planejamento e pesquisa do Ipea Leonardo Mello de Carvalho, que pertence ao
Grupo de Conjuntura do Instituto.
O setor de máquinas e equipamentos foi um dos mais afetados pelas perdas
da indústria sobretudo pelo corte dos investimentos. A queda no faturamento
real do segmento foi de 25,3% no acumulado do ano até setembro, ficando atrás
apenas do setor automotivo.
O presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos em
Minas Gerais (Abimaq-MG), Marcelo Veneroso, explica que a situação reflete a
dependência do Estado de atividades como mineração e siderurgia, ambas
atingidas pela queda nos preços internacionais das commodities.
Continuamos em queda, em proporção menor do que no ano passado, mas
ainda registrando números negativos. Para esse resto de ano, não há nada que
indique melhora. Houve um viés de otimismo com a troca de governo, mas o novo
governo não tomou ainda nenhuma decisão que faça os investimento acontecerem
para colocar novos pedidos na indústria de máquinas.
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