Reforma política urgente!
Frei Betto
Nossa legislação eleitoral é um verdadeiro queijo suíço, cheia de
buracos. Foi um avanço proibir doações de bancos e empresas a candidatos.
Porém, ainda levam vantagem os candidatos mais ricos e amigos dos ricos.
João Dória (PSDB), candidato a prefeito de São Paulo, investiu na
campanha R$ 2,4 milhões. Ou seja, o fator financeiro favorece os candidatos que
dispõem de mais recursos. Houve até candidato, na disputa pela prefeitura de
Curitiba, como Rafael Greca (PMN), aquele que vomita quando encontra pobre, que
doou R$ 600 mil à própria campanha, embora seu patrimônio pessoal não chegue a
tanto...
O caixa dois infelizmente não foi extinto e se constataram casos de
utilização indevida de CPFs alheios. Parte dessa dinheirama veio do crime
organizado. Nossa política se transforma em caso de polícia.
Uma reforma política deveria proibir candidatos de investirem recursos
próprios em suas campanhas. E as contribuições de seus amigos e eleitores serem
limitadas a um teto que evite o lobby que permite a certos candidatos
concorrerem como o coelho na disputa com a tartaruga.
É preciso também adotar a isonomia das candidaturas no tempo de aparição
na TV, o mais poderoso cabo eleitoral. Não faz sentido a atual
proporcionalidade de representação partidária. O candidato de um pequeno
partido pode ser melhor gestor que o candidato de um grande partido. Portanto,
todos deveriam ter igual visibilidade, em iguais condições de expor aos
eleitores suas propostas e projetos, como ocorre nas eleições do segundo turno.
A Justiça Eleitoral deveria se encarregar de analisar melhor a vida
pregressa dos candidatos, de modo a impedir que narcotraficantes, milicianos,
corruptos e bandidos se apresentem para ocupar funções públicas. A Lei da Ficha
Limpa precisa ser ampliada.
Enfim, 35 partidos disputaram a eleição municipal deste ano. A maioria,
partidecos que nasceram de interesses corporativos, nem sempre voltados ao bem
comum. A falta de alfabetização política do povo brasileiro se reflete neste
dado preocupante: em nove capitais (Rio, São Paulo, Belém, Aracaju, Porto
Alegre, Cuiabá, Campo Grande, Belo Horizonte e Curitiba), o número de votos
brancos, nulos e de eleitores que não votaram superou o número de votos obtidos
pelo candidato que ficou em primeiro lugar.
João Doria se elegeu prefeito de São Paulo no primeiro turno com 3.085
milhões de votos. Perdeu apenas para os eleitores que não compareceram às urnas
ou votaram branco ou nulo. Eles somam 3.096 milhões!Um Brasil melhor exige,
urgente, profunda reforma política!
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