Nunca, novamente
Manoel Hygino
Em 29 de setembro, o povo de Israel prestou as últimas homenagens a
Shimon Peres, com a presença das maiores lideranças do mundo, com exceção do
segmento árabe, de que havia apenas Mahamud Abbas. Reconhecido
internacionalmente, Shimon foi distinguido com o Prêmio Nobel da Paz e, diante
da urna funerária, o presidente Obama se inclinou na Esplanada Knesset, isto é,
do Parlamento, de Israel, em Jerusalém.
Obama afirmou que o sonho de paz de Peres jamais se concretizou, mas ele
deu a maior parte de sua vida para torná-lo realidade. Concluiu com uma frase
em hebraico: “Toda raba haver lakar”, ou seja: “Obrigado, grande amigo”.
Bill Clinton, que assistira ao histórico aperto de mãos, em 1993, entre
os inimigos israelense e árabe, observou: Peres “sabia exatamente o que fazia
ao ser exageradamente otimista”. Emocionou-se o ex-presidente dos Estados
Unidos, porque também, há 21 anos, ali ele estivera para sepultar outro amigo e
grande lutador pela paz Yitzhak Rabin, assassinado por um extremista judeu em
1995. Shimon tinha 93 anos, foi uma das 6 milhões de vítimas do Holocausto e
viu seu pai ser queimado vivo pelos nazistas num campo de extermínio.
Peres foi o segundo Prêmio Nobel da paz falecido este ano. Em julho, aos
87 anos, falecera nos Estados Unidos Elie Wiesel, romeno, escritor e
sobrevivente do Holocausto. Com o código A-7713 em seu braço, ele registrou:
“Eu jamais me esquecerei daquelas chamas que consumiram minha fé para sempre.
Nunca me esquecerei do silêncio noturno, que me privou, por toda a eternidade,
do desejo de viver. Nunca me esquecerei dos momentos que assassinaram o meu
Deus e minha alma e transformaram meus sonhos em poeira. Nunca me esquecerei
dessas coisas, mesmo que eu seja condenado pelo tempo que Deus quiser”.
Elie Wiesel viu também quando viu a morte do pai no inferno do campo de
extermínio de Buchenwald. Tinha 17 anos quando foi libertado daquele local de
horror, tornando-se depois porta-voz mundial do Holocausto. Ao atribuir-lhe o
Nobel da Paz, o respectivo Comitê enfatizou que ele fora “um dos mais
importantes líderes espirituais e guias em uma era em que a violência, a
repressão e o racismo continuam a caracterizar o mundo”.
Eis a maior mensagem que estes homens que sofreram em vida, em corpo e
alma, deixaram: a advertência de que a paz ainda não foi alcançada, não no
Oriente Médio, em que multidões são consumidas pela incompreensão,
insensibilidade e desprezo à vida dos semelhantes.
Tem-se ignorado as lições de reconciliação e dignidade humana. Na
justificação do Nobel, foi dito: “É baseada em sua própria experiência pessoal
(e a referência pode ser generalizada entre os que partiram e os sobreviventes
que escasseiam) de humilhação total e de absoluto desprezo pela humanidade,
mostrados nos campos da morte de Hitler”, onde faleceram, além do pai de
Wiesel, sua mãe Sarah e a irmã Tzipora.
Pode-se repetir o que Shimon Peres afirmou de Wiesel: “Ele deixou uma
marca na humanidade, através da preservação e da manutenção do legado do
Holocausto e ao legar a mensagem de paz e respeito entre os povos. Ele suportou
as mais graves atrocidades da humanidade – sobreviveu a elas e dedicou sua vida
a transmitir a mensagem Nunca Novamente”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário