quarta-feira, 5 de outubro de 2016

AS DESPESAS SÃO MAIORES DO QUE A RECEITA



O abacaxi financeiro que aguarda o futuro prefeito

José Antônio Bicalho 




O próximo prefeito, seja João Leite ou Kalil, terá pouquíssimo dinheiro para mostrar serviço. Como o orçamento municipal é quase todo atrelado a despesas obrigatórias, os investimentos em obras ou melhoria dos serviços são absolutamente dependentes do aumento da arrecadação. Como a perspectiva para o próximo ano é de estagnação ou, na melhor das hipóteses, crescimento mínimo das receitas, não haverá sobra de caixa para fazer diferente.
É verdade que nem tudo depende de dinheiro. É possível melhorar o funcionamento da máquina pública trabalhando os modelos de gestão. Mas, cá para nós, dinheiro é fundamental para uma administração que se queira marcante. Belo Horizonte é uma cidade com déficits profundos de infraestrutura que só serão sanados com dinheiro e obras.
Mas a frustração das receitas da Prefeitura é, hoje, de mais de R$ 1 bilhão. O demonstrativo das receitas líquidas correntes da Prefeitura dão conta que no acumulado de 12 meses até agosto (o último a ser publicado), as receitas da prefeitura somaram R$ 8,921 bilhões, enquanto a expectativa de receitas para o fechamento do ano é de R$ 10,205 bilhões, uma diferença entre realidade e previsão de R$ 1,284 bilhões. Como a economia ainda não mostrou sinal de reação, já está claro que a Prefeitura não conseguirá cumprir sua meta até o fim de 2016.
Cá para nós, dinheiro é fundamental para uma administração que se queira marcante
Mas digamos que a economia apresente alguma melhora no próximo ano, com impacto no ISS, no ITBI e na transferência de ICMS, principalmente. Se essa recuperação acompanhar a evolução do PIB prevista para o próximo ano, de 1,3% de acordo com o último Boletim Focus do Banco Central, ela sequer compensará a frustração da arrecadação deste ano.
No entanto, a Lei de Diretrizes Orçamentárias para o próximo ano aposta numa arrecadação de R$ 9,892 bilhões para o próximo ano, o que representaria um crescimento de 10,9% sobre o que foi arrecadado em 12 meses até agosto. Está claro, portanto, que a previsão da arrecadação na LDO é irreal. E isso é muito perigoso porque a arrecadação prevista na LDO é o parâmetro das obrigações de gastos, que estão infladas.
Sem sobras
Segundo a LDO, o resultado primário a ser alcançado em [/TXT_COL]2017 é de R$ 117,3 milhões, que é o dinheiro que sobraria para a Prefeitura pagar os juros e amortizações de sua dívida. Mas, se gastos não forem cortados, o provável é que se faça no próximo ano um déficit em torno de R$ 1 bilhão, que redundaria necessariamente em aumento da dívida.
Hoje, essa dívida está em R$ 4,203 bilhões. Ao contrário dos governos estadual e federal, a dívida da Prefeitura não apresenta até o momento uma evolução explosiva, mas no próximo ano sairá de controle se nada for feito. A LDO prevê que as despesas correntes (pessoal, custeio e gastos obrigatórios) no próximo ano serão de R$ 9,073 bilhões no próximo ano, e as despesas de capital (investimentos e custos da dívida), de R$ 1,189 bilhão, totalizando gastos globais em 2017 de R$ 10,262 bilhões. Mas se as receitas reais ficarem próximas a R$ 9 bilhões, o que é bastante provável, alguma coisa acima de R$ 1 bilhão será acrescida a dívida. Ai, sim, entraremos num ritmo explosivo de aumento do endividamento.
E o que fazer para evitar tal desastre? Cortar as despesas de investimento, que é a única passível de enxugamento. E é por isso que abri a coluna afirmando que o próximo prefeito terá pouquíssimo dinheiro para mostrar serviço.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

VÁRIOS RECADOS SOBRE O CONTROLE DAS BIG TECHS

  Big Techs ...