Na fronteira venezuelana
Manoel Hygino
Quem te viu, quem te vê! É o pensamento que nos aflora quando assistimos
à difícil conjuntura por que passa a Venezuela. Um dos maiores produtores de
petróleo do mundo, rico e poderoso portanto, viu esvair-se sua força econômica
pelo mau uso dos dinheiros públicos e corrupção. De 2005 a 2010, adquiriu 4
bilhões de dólares em armamentos da Rússia “para defender a pátria de Bolívar e
a revolução socialista”, como afirmara o presidente Chávez. Em 2011, ao se
descobrir com câncer, foi tratar-se em Cuba, mas o seu país já se encontrava em
crise, com inflação e mesmo falta de alimentos. O regime entrara em queda, mas
ele ainda designou Nicolás Maduro para sucedê-lo.
No dia 11 deste outubro, a Seleção Brasileira de futebol foi a Mérida
lutar por uma vaga nas eliminatórias da Copa do Mundo. A cidade fica a 700
quilômetros de Caracas, e a distância possivelmente visasse evitar que os meios
de comunicação internacionais tomassem contato direto com a insatisfação nas
ruas da capital.
Para suprir as necessidades da delegação brasileira, ela levou arroz e
feijão, até água para consumo próprio, além de massas e carnes. Também reforçou
o estoque de remédios e itens de limpeza, como sabonete e papel higiênico na
bagagem. Explica-se: o presidente Maduro prorrogara o estado de exceção por
emergência econômica. Como o Brasil não tem mais voos diretos para a Venezuela,
a CBF sentiu-se obrigada a fretar um avião para levar sua comitiva, caso
contrário, teria de fazer pelo menos duas escalas.
O cotidiano venezuelano é grave, embora haja silêncio sobre determinados
fatos. Milhares de pessoas, famintas, estão atravessando a fronteira brasileira
e se alojando em Roraima. Já existe uma pequena favela em Pacaraima, mas
também, há as que se alojam em Boa Vista, a capital. Querem comida e trabalho.
Famílias, inclusive crianças, precisam do que lhes falta sob regime
bolivariano. Não é novidade, apenas se constata que acontece, desde que Chávez
e Maduro decidiram isolar-se sob o pálio do bolivarismo, que não traz consigo
esperança.
O panorama preocupa, tanto que as autoridades brasileiras enviaram sete
caças AMX e dois Hérculos C-130 da Força Aérea para a base aérea de Boa Vista,
precaução para alguma emergência. O que pode acontecer: a flotilha aérea
enfrentará os aviões adquiridos aos russos? Ou tentará conter a migração na
fronteira? É inquietante.
Maduro admite que o país enfrenta “uma situação extrema” pelo declínio
dos níveis das dezoito represas do país e exige que as indústrias estatais
reduzam o consumo de energia em 20%, o que já é praticado na administração
pública e nas atividades da população, que viveu com feriados nas sextas-feiras
durante dois meses.
Durante o jogo pelas eliminatórias, ele foi interrompido por vinte
minutos em decorrência de fortes chuvas e falta de energia no estádio, enquanto
o público gritava “Fora Maduro”. Há um pêndulo sobre o futuro da Venezuela, que
importava 70% do que consome. Os meios de comunicação estão cerceados e falta o
mínimo indispensável à sobrevivência de grandes segmentos da população.
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