Os bancos são responsáveis
pela alta na inadimplência
José Antônio Bicalho
É irônico como os bancos brasileiros são tratados de maneira corriqueira
pelo mercado. Analistas falam de juros e desempenho com a maior naturalidade,
como se estivessem tratando de empresas submetidas às regras de mercado e da
livre concorrência. Mas não é assim. Já disse diversas vezes nessa coluna e
volto a insistir: os cinco grandes bancos brasileiros combinam entre si as
taxas de juros que praticam. E isso caracteriza formação de cartel, o que é
crime.
Não existe conexão entre o custo do dinheiro (quanto os bancos pagam
para quem investe) e as taxas para empréstimo que praticam. A caderneta de
poupança pagou em 12 meses ao final de agosto 8,5% de juro, ou seja, menos que
a inflação do período, que foi de 8,97%. Enquanto isso, o juro médio do cartão
de crédito bateu em 451,4% ao ano em agosto, conforme levantamento divulgado
ontem pela associação dos profissionais do mercado financeiro, a Anefac.
Os juros também estão absolutamente desconectados da Selic, que é a taxa
cobrada nas operações de empréstimo entre os próprios bancos. Por também ser
uma referência do custo do dinheiro para os bancos, a Selic representaria, em
tese, o menor juro que um banco poderia praticar. No entanto, o juro cobrado no
empréstimo rotativo do cartão de crédito equivale a 32 vezes o custo de
captação pela Selic, atualmente em 14,25%.
Quem suporta pagar quase 500% de juros ao ano? Quem suporta tomar
emprestado, digamos, R$ 10 mil por conta de uma emergência financeira e, ao
final de um ano, ter que pagar R$ 45 mil?
Ganância e cegueira
Há algum tempo venho alertando que a ganância dos bancos brasileiros os cegaram para uma consequência óbvia de suas políticas de juros: chegará o momento em que a inadimplência explodirá, levando consigo os lucros astronômicos. E esse movimento já começou a tomar forma.
Há algum tempo venho alertando que a ganância dos bancos brasileiros os cegaram para uma consequência óbvia de suas políticas de juros: chegará o momento em que a inadimplência explodirá, levando consigo os lucros astronômicos. E esse movimento já começou a tomar forma.
Quando o juro é de 500%, o calote deixa de ser moralmente condenável
Com o crescimento expressivo da inadimplência, principalmente das
empresas engolfadas pela crise, e diante do esfriamento da demanda por crédito,
o lucro combinado do cartel dos cinco grandes bancos brasileiros (Banco do
Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e Caixa Econômica Federal) encolheu
20,4% no segundo trimestre do ano, passando de R$ 18,6 bilhões de abril a junho
do ano passado para R$ 14,8 bilhões no mesmo período desse ano. Uma queda
bastante significativa, mas que tende a ser maior se nada for feito.
Pessoas e empresas vão deixando de pagar aos poucos, na medida em que
seus esforços para honrar compromissos vão se mostrando inúteis. O fato é que
quando as taxas sobem à estratosfera, os tomadores de empréstimo são lançados à
inadimplência contra suas vontades.
Não sou consultor nem conselheiro financeiro. Mas, para aqueles que
estão endividados junto aos bancos, sugiro analisar com bastante racionalidade
os prós e os contras de simplesmente não pagar a dívida. Cá para nós, quando o
banco passa a cobrar juro de quase 500% ao ano, o não pagamento do empréstimo
deixa de ser moralmente condenável.
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