quarta-feira, 14 de setembro de 2016

TUDO PARA OS BANCOS - NADA PARA O POVO



Os bancos são responsáveis pela alta na inadimplência

José Antônio Bicalho



É irônico como os bancos brasileiros são tratados de maneira corriqueira pelo mercado. Analistas falam de juros e desempenho com a maior naturalidade, como se estivessem tratando de empresas submetidas às regras de mercado e da livre concorrência. Mas não é assim. Já disse diversas vezes nessa coluna e volto a insistir: os cinco grandes bancos brasileiros combinam entre si as taxas de juros que praticam. E isso caracteriza formação de cartel, o que é crime.
Não existe conexão entre o custo do dinheiro (quanto os bancos pagam para quem investe) e as taxas para empréstimo que praticam. A caderneta de poupança pagou em 12 meses ao final de agosto 8,5% de juro, ou seja, menos que a inflação do período, que foi de 8,97%. Enquanto isso, o juro médio do cartão de crédito bateu em 451,4% ao ano em agosto, conforme levantamento divulgado ontem pela associação dos profissionais do mercado financeiro, a Anefac.
Os juros também estão absolutamente desconectados da Selic, que é a taxa cobrada nas operações de empréstimo entre os próprios bancos. Por também ser uma referência do custo do dinheiro para os bancos, a Selic representaria, em tese, o menor juro que um banco poderia praticar. No entanto, o juro cobrado no empréstimo rotativo do cartão de crédito equivale a 32 vezes o custo de captação pela Selic, atualmente em 14,25%.
Quem suporta pagar quase 500% de juros ao ano? Quem suporta tomar emprestado, digamos, R$ 10 mil por conta de uma emergência financeira e, ao final de um ano, ter que pagar R$ 45 mil?
Ganância e cegueira
Há algum tempo venho alertando que a ganância dos bancos brasileiros os cegaram para uma consequência óbvia de suas políticas de juros: chegará o momento em que a inadimplência explodirá, levando consigo os lucros astronômicos. E esse movimento já começou a tomar forma.
Quando o juro é de 500%, o calote deixa de ser moralmente condenável
Com o crescimento expressivo da inadimplência, principalmente das empresas engolfadas pela crise, e diante do esfriamento da demanda por crédito, o lucro combinado do cartel dos cinco grandes bancos brasileiros (Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e Caixa Econômica Federal) encolheu 20,4% no segundo trimestre do ano, passando de R$ 18,6 bilhões de abril a junho do ano passado para R$ 14,8 bilhões no mesmo período desse ano. Uma queda bastante significativa, mas que tende a ser maior se nada for feito.
Pessoas e empresas vão deixando de pagar aos poucos, na medida em que seus esforços para honrar compromissos vão se mostrando inúteis. O fato é que quando as taxas sobem à estratosfera, os tomadores de empréstimo são lançados à inadimplência contra suas vontades.
Não sou consultor nem conselheiro financeiro. Mas, para aqueles que estão endividados junto aos bancos, sugiro analisar com bastante racionalidade os prós e os contras de simplesmente não pagar a dívida. Cá para nós, quando o banco passa a cobrar juro de quase 500% ao ano, o não pagamento do empréstimo deixa de ser moralmente condenável.

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