Bolsa Família entra na mira
do governo e passará por pente-fino
Tatiana Lagôa e
Tatiana Moraes
Cruzar os dados dos beneficiários registrados em três ministérios
diferentes é uma das estratégias desenhadas para reduzir o número de fraudes no
programa social
Depois de sinalizar que vai realizar cortes nos benefícios
previdenciários e uma revisão do Sistema Único de Saúde (SUS), o presidente
Michel Temer foca no Bolsa Família.
A equipe econômica do governo federal finaliza um decreto para endurecer
as regras de entrada e permanência no programa social. Um pente-fino nos
benefícios já está em curso.
Apenas entre julho e agosto deste ano foram desligadas 5.533 famílias do
programa em Minas, uma economia de R$ 640 mil. Em todo o Brasil, os cortes
batem a casa dos R$ 3,6 milhões, com eliminação de 57 mil beneficiários.
Criado no governo Lula, o programa beneficia 13 milhões de famílias no
Brasil e pouco mais de 1 milhão no Estado. Para 2016, a União prevê gastar R$
28,8 bilhões com o benefício. O montante é quase metade do necessário para
pagar o reajuste do Judiciário, de R$ 58 bilhões.
“Os programas sociais do governo não podem ser diminuídos. Mas precisam
ser revisados”
Lincoln Portela - Deputado federal PR-MG
Lincoln Portela - Deputado federal PR-MG
Estratégias
Segundo o Ministério de Desenvolvimento Social e Agrário, o decreto está
sendo formulado em conjunto com os ministérios da Fazenda e do Planejamento.
“A intenção é melhorar a governança do programa e melhorar a
focalização, garantindo o acesso e a permanência de quem mais precisa do Estado
e pelo tempo que for necessário”, destaca, em nota.
Para isso, haverá uma ampliação do cruzamento de informações dos
beneficiários com outras bases de dados, como o Sistema Informatizado de
Controle de Óbitos (Sisob), Relação Anual de Informações Sociais (Rais), Folha
de Benefícios do INSS, Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos
(Siape), FGTS, guias da Previdência Social e outras.
“Temos fortes evidências de que existem participantes do programa que
não têm necessidade de receber”
Newton Cardoso Júnior - Deputado federal (PMDB-MG)
Newton Cardoso Júnior - Deputado federal (PMDB-MG)
Antes, o confrontamento de dados era feito apenas uma vez por ano e não
contava com todas essas bases. “Com este cruzamento mensal, teremos a possibilidade
de efetivamente promover uma boa gestão do programa e dos recursos públicos
envolvidos”, diz o ministério.
Essa é uma estratégia para barrar irregularidades, conforme o líder do
PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima. “O Bolsa Família é extremamente importante
para o Brasil e será mantido. Mas não serão mantidos erros e fraudes praticados
e usados para atrair votos em grande parte do Brasil”, pondera Lima.
“O Bolsa Família provoca um efeito multiplicador econômico. Se o
orçamento do programa for reduzido, pode haver um desestímulo da demanda
interna. Com R$ 85 por mês, ninguém deixa de trabalhar”
Cristiane Kerches - Professora de Gestão e Políticas Públicas da USP
Cristiane Kerches - Professora de Gestão e Políticas Públicas da USP
Apoio
Para o deputado federal Newton Cardoso Júnior (PMDB), a mudança é
necessária. “O programa só tem porta de entrada. Porém não pode ser mantida
essa dependência eterna”, afirma.
Para o parlamentar, outra possível mudança é a exigência de CPF até para
as crianças beneficiadas, sob pena de corte do benefício.
Além disso, o benefício poderá ser cancelado automaticamente na segunda
vez que a família for notificada por inconsistências cadastrais. Atualmente,
isso ocorre na terceira ocorrência.
“Quanto mais pobre a região, mais importante o Bolsa Família para manter
a chama da economia acesa, inclusive na geração de empregos. O mesmo acontece
com os programas previdenciários, que também estão na mira do governo”
Fabrício Augusto de Oliveira - Professor da Escola do Legislativo
Fabrício Augusto de Oliveira - Professor da Escola do Legislativo
“Vamos fazer essa revisão para atender quem realmente precisa porque tem
até pessoas falecidas recebendo. E os cortes são muito necessários”, pondera.
De acordo com o deputado federal Lincoln Portela (PR), o governo estima
que há cerca de 500 mil famílias irregulares.
Levando em conta que a média paga aos beneficiários é de R$ 182,62, o
governo alcançaria economia aproximada de R$ 91,3 milhões.
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