A hora da Ficha Limpa
Manoel Hygino
Em recente artigo, o desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima, do
Tribunal de Justiça de Minas Gerais, prestou homenagem ao ministro Carlos Mário
da Silva Velloso, ex-presidente do TSE, ex-membro do Supremo Tribunal Federal e
seu ex-presidente. Lembrou o desembargador que foi Velloso o responsável pela
implantação, em 1996, das urnas eletrônicas no país. São decorridos, pois,
vinte anos.
O eleitor percebe que votar se tornou mais fácil e, além de tudo, o
sufrágio mais seguro, numa “inovadora tecnologia que operou histórica revolução
no sistema eleitoral brasileiro”, segundo o articulista. Mas, o magistrado
Rogério focalizou também Paulino José Soares de Souza, o Visconde do Uruguai,
filho de um médico mineiro de Paracatu (terra natal de Joaquim Barbosa), que
viveu naquele país, no tempo do nosso Império. O jovem Paulino foi estudar na
França, para se tornar uma das expressões maiores da inteligência brasileira,
exercendo importantes cargos em ministérios e no Legislativo, embora
presentemente tão esquecido.
O historiador José Murilo de Carvalho, sobre a singular personalidade de
Paulino se manifestou: “Avesso a conflitos, um estudioso por natureza. Dele
disse Cotegipe que “era capaz de valsar sobre uma mesa repleta de cristais, sem
tocar numa peça”.
Autor do “Ensaio sobre direito administrativo”, já nomeado Visconde,
afirmou ali: “A liberdade política é essencial para a felicidade de uma nação,
boas instituições administrativas apropriadas às suas circunstâncias e
convenientemente desenvolvidas não o são menos. Aquela sem estas não pode
produzir bons resultados”.
Nesta antevéspera de eleição municipal, evocar Paulino é plenamente
justificável. Não bastaria a urna eletrônica para sanar os desvios. Veio a Lei
da Ficha Limpa, isto é, a Lei Complementar nº 135, de 2010, antecedida pela Lei
de Inelegibilidade, Lei Complementar nº 64, que é de 1990. É imprescindível
aplicá-la em 2016, mais do que nunca, evitando a vexação vergonhosa que ora se
registra no preenchimento de cargos públicos, até nos mais altos escalões da
República.
Depreende-se, comparando as situações de antanho e de agora, que o
Brasil não evoluiu como necessário em termos éticos desde os tempos do
Visconde. Tanto que o historiador José Murilo relaciona velhas mazelas que
persistem hoje e são poderosas: “Muitos dos males apontados por Uruguai
relativos à política nacional, como a distância entre governo e povo, a
burocracia absolutista e ineficaz, a mania de esperar tudo do Estado, o
sufocamento dos municípios, a inadequada distribuição de responsabilidade entre
municípios, províncias e governo central, o empreguismo, o empenho, o
clientelismo, o patronato, o predomínio dos interesses pessoais e de facções, a
falta de espírito público, a falta de garantias dos direitos individuais,
continuam na ordem do dia, posto que atenuados”.
Atenuados, parece-me, não ser o adjetivo apropriado, se se considerar os
sucessivos e muitos escândalos que se repetem. Aliás, esta a opinião do
desembargador Rogério Medeiros: “Ao longo da sua história como jovem nação, o
Brasil registra inúmeros episódios de corrupção nos campos da política e da
administração pública. A chaga da improbidade espraia-se pelas diversas
unidades federativas e esferas do poder”. Mais do que nunca, portanto, a Lei
Ficha Limpa precisa prevalecer.
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