O depoimento de Juscelino
Manoel Hygino
A coerção a que foi submetido o ex-presidente Luiz Inácio, em São Paulo,
ao ser levado a depor em dependência da Aeronáutica, provocou grande alvoroço
no país este ano e recebeu manifestações de toda natureza. Possivelmente poderá
o fato repetir-se, considerando a ação ininterrupta de membros do Ministério
Público em São Paulo, dos magistrados em atividade em Curitiba ou as
investigações da Polícia Federal. Os motivos são tão sabidos que dispensam
minuciosas explicações.
O que despertou, contudo, a atenção foi o comentário feito, em março,
pelo “Jornal de Brasília”, pelo jornalista Gilberto Amaral, principal locutor
da Rádio Nacional, da capital federal, à época do governo Goulart.
Amaral recorda que, após a queda de Jango, “vieram as cassações de
mandatos e, para alguns políticos, igualmente as perseguições sem sentido”. Um
dos alvos era Juscelino, sempre em evidência por seu comportamento liberal, por
seu destemor, por sua popularidade e pelo reconhecimento do que fizera no país
em cinco anos.
Kubitschek foi intimado pela Auditoria Militar do Rio de Janeiro a depor
num inquérito instaurado para apurar genericamente aquilo que a imprensa da
oposição denominava de “a roubalheira na construção de Brasília”. Aconteceu,
todavia, o que talvez não se pudesse esperar.
O ex-presidente recebeu a comunicação por escrito e, no dia e hora agendados,
foi sozinho depor no Ministério da Guerra, o enorme prédio construído ao lado
da Estação Central do Brasil, na avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro.
Era, como é, local de grande circulação de pessoas, mas Juscelino não se
importou.
Não houve ninguém a escoltá-lo ou qualquer demonstração de força. O
ex-presidente entrou no edifício sorrindo, como era de seu feitio e maneira de
ser, “de cabeça erguida e confiante. Toda a imprensa registrou o acontecimento,
como agora se fez com o ex-presidente Lula”.
Apenas a imprensa o aguardava, quis ouvi-lo e nada foi negado em termos
de informações. Tudo foi divulgado. Transcorrido o tempo, arquivou-se o
inquérito policial-militar. Nonô, o filho de dona Júlia, menino pobre de
Diamantina, continuou querido pelos brasileiros. Cinquenta anos passados,
pode-se constatar, Juscelino permaneceu incólume e amado pelos brasileiros.
Assim se manteve até o trágico acidente na Rodovia Presidente Dutra, em
um mês macabro de agosto. Gilberto Amaral declarou que recordou e registrava os
fatos para que os jovens possam aprender a conhecer episódios que a própria
história embaçou.
A corrupção está presente em todos os lugares do mundo. As pessoas hoje
já identificam quem são e onde os corruptos estão. Dezenas de operações da
Polícia Federal, nos últimos anos, em especial a Lava Jato, ajudaram nas
conclusões. Pesquisa de um grupo de escritórios de advocacia em 19 países
mostra que 93% dos nossos executivos conhecem uma empresa ou indivíduo
corrupto.
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