Um pouco tarde para Dilma
Editorial Jornal
Hoje em Dia
A presidente afastada Dilma Rousseff não apresentou muitas novidades em
sua defesa aos senadores na sessão de julgamento do processo de impeachment.
Voltou a falar que não cometeu crime de responsabilidade, que o seu afastamento
não passa de golpe, que o processo é uma conspiração das elites contra a gestão
petista, que cuida dos mais pobres, e que irá ao Supremo Tribunal federal caso
a decisão não seja favorável.
Um dos (poucos) aspectos que chamou a atenção foi o comportamento de
Dilma em relação aos parlamentares. O tom de voz esteve mais baixo, mesmo na
resposta a questionamentos feitos com argumentos que a desagradavam.
Diferentemente do que era esperado por parte da classe política, Dilma não foi
para o confronto escancarado e também não buscou constranger opositores, como
no caso do presidente do PSDB, senador Aécio Neves, seu adversário na última
eleição.
Ficou claro que a presidente tentou desfazer a imagem de comandante dura
e inflexível, que até os petistas ajudaram a construir. Ainda esperançosa de
contrariar os prognósticos, que indicam a confirmação do impeachment, Dilma sabe
que terá que contar com o apoio desses mesmos que a acusam caso consiga virar o
jogo nas próximas horas.
A ida de um presidente ao Legislativo para prestar esclarecimento sobre
sua gestão deveria ser bem mais frequente do que apenas em casos extremos, como
esse. Mas temos um sistema político baseado na troca de favores entre o
Executivo e parlamentares, negociações que por si só bastam para garantir o
apoio do Congresso. Já a aprovação de medidas para o bem da população são
ignorados na hora de se questionar um gestor.
Um sistema em que você precisa negociar com 20 ou 30 legendas um apoio é
completamente inviável, e uma reforma política é urgente para que menos tempo e
recursos sejam gastos nessa negociação.
A reforma política, com participação da população, foi justamente um
compromisso feito Dilma Rousseff caso ela seja mantida. Mas poucos lembram que,
em 2013, ela também anunciou alguns pontos da reforma, que não foram pra
frente. Os senadores também não foram sensibilizados com a proposta de uma Dilma
mais afável e conciliadora. Parece um pouco tarde para ela se fazer
ouvir.
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