Orgulho da Cidade de Deus, Rafaela Silva faz história na Cidade Olímpica
Henrique André
OURO - Compensada pela injustiça cometida há quatro anos, Rafaela foi
ovacionada em casa e se emocionou
RIO DE JANEIRO - O choro efusivo da judoca Rafaela Silva ao receber a
medalha de ouro, nesta segunda-feira (8), pode ser traduzido de diversas
formas. A primeira delas é por todo esforço ter valido a pena. A outra, talvez
mais importante, envolve dramas pessoais superados pela atleta. Em 2012, quando
eliminada após erro da arbitragem, ela sofreu ataques racistas nas redes
sociais e pensou em abandonar o quimono.
Além de tudo disso, a menina da Cidade de Deus, uma das mais famosas
favelas cariocas, literalmente encerrou com chave de ouro o drama brasileiro na
modalidade. Até o momento, nenhum dos representantes do país havia se
credenciado ao pódio.
Com a Arena Carioca 2 completamente lotada, Rafa, como foi chamada por
todos que estavam de verde e amarelo, deu show e fez valer o "fator
casa". Sempre muito segura e firme durante o combate, ela provou ser
guerreira também em cima do tatame.
Aos gritos de "olê, olê, olá, Rafa, Rafa", a jovem, de 24
anos, ganhou força extra e acabou recompensada com a maior realização de quem
disputa os Jogos Olímpicos: o ouro.
"Comecei a fazer judô por brincadeira e hoje sou campeã mundial e
olímpica", comentou a judoca após o grande triunfo. "Neste ciclo eu
treinei tudo o que podia. Graças a Deus o resultado apareceu", acrescentou
a melhor atleta da categoria até 57 quilos.
Justiça feita
Compensada pela injustiça cometida há quatro anos, na derrota para a
húngara Hedvig Karakas, Rafaela foi ovacionada em casa. Seu primeiro técnico,
Geraldo Bernardes, que evitou que a atleta abandonasse a carreira após a
eliminação em Londres, não escondeu a emoção com mais uma conquista na
carreira. Há 12 anos, ele já havia conduzido o aluno Flávio Canto, hoje
comentarista, ao bronze em Atenas.
"Superação. Ela mostrou para todo mundo para que veio. Foi com
muito trabalho e com muita gente não acreditando, inclusive", disse
Bernardes. "Aconteceu o mesmo com o Flávio (Canto). Ele era o meu sonho e
ninguém acreditava que chegaria", concluiu.
Outro que ficou muito feliz e com sentimento de ter ganhado mais uma
medalha própria foi o próprio Canto. Em entrevista ao Hoje em Dia, ele ainda
não se dava conta da grandeza do que havia acontecido ali.
"Extraordinário. Ela é a primeira campeã olímpica e mundial. Estou
ainda pasmo. Para ela representa muita coisa e tem um simbolismo enorme, assim
como para o país", explanou o ex-judoca. Levada pelo pai, Rafaela treinou
no projeto social desenvolvido pelo medalhista em Atenas.

Nenhum comentário:
Postar um comentário